Prótese da USP é aprovada nos EUA

Folha de S. Paulo - 13/5/2003

ter, 13/05/2003 - 9h19 | Do Portal do Governo

Adriana Matiuzo, free-lance para a Folha Ribeirão


A FDA (Food and Drug Administration), agência que regulamenta a liberação de alimentos e drogas no mercado dos EUA, aprovou e deve emitir até o mês que vem o certificado sobre o uso de próteses à base de óleo de mamona, uma tecnologia desenvolvida pelo Instituto de Química da USP (Universidade de São Paulo) de São Carlos.

As próteses brasileiras são mais baratas e têm um índice de rejeição praticamente nulo, em comparação às atualmente usadas no mercado, feitas de silicone. O material foi descoberto para a medicina de forma inusitada, em 1984, enquanto Gilberto Chierice, coordenador da pesquisa, pesquisava produtos para telefonia.

Ele disse não ter imaginado à época que um polímero -substância composta uma longa cadeia de pequenas moléculas baseadas em átomos de carbono- formado a partir do óleo de mamona seria útil para a medicina. Ele prestava serviços para a Telebrás e seu objetivo era encontrar um material para revestimento de fios e cabos telefônicos.

Na década de 90, o hospital Amaral de Carvalho, de Jaú, com dificuldades financeiras, pediu o apoio da universidade para modernizar e consertar equipamentos. Foi aí que descobriram que o material sintetizado por Chierice seria útil para próteses. Hoje há próteses desse material substituindo colunas vertebrais, crânios, mandíbulas, dentes, mamas e testículos, entre outros.

Ao conhecer o material produzido a partir do óleo de mamona, o urologista Renato Prado Costa teve a idéia de criar próteses para testículos. Depois de viabilizar a produção, os pesquisadores passaram a implantar as próteses em animais, para testes. ‘O resultado não é meu. É o país que ganha. Não conheço nada desenvolvido no Brasil que tenha sido aprovado por um órgão reconhecido como a FDA’, afirmou Chierice.

Até hoje, 50 pares de próteses de testículos foram implantados no hospital de Jaú, que atende pelo SUS (Sistema Único de Saúde). Chierice, que tem a patente do produto, disse que o hospital é uma referência no tratamento de câncer -um dos motivos é a implantação das próteses.

Para o pesquisador, o reconhecimento internacional vai fazer com que as próteses se popularizem no mercado americano.

Além de testículos, as próteses foram implantadas em Jaú em 16 pênis e 12 mandíbulas.

‘De todas as que implantei, só uma apresentou problemas, mas foi um problema muito específico de pele do paciente, que não deve ser entendido como uma rejeição’, disse Costa.

Outra vantagem, segundo ele, é que as próteses de silicone podem pesar até 400 gramas, enquanto as de óleo de mamona chegam a 90 gramas. O custo também é 10% inferior ao das próteses comuns.