Projeto reduz em 80% gravidez na adolescência

O Estado de S.Paulo - Quarta-feira, 07 de dezembro de 2005

qua, 07/12/2005 - 14h35 | Do Portal do Governo

Parceria de ONG com governo do Estado atuou em cidades do Vale do Ribeira

Simone Iwasso

Um projeto de educação sexual baseado na construção de projetos de vida conseguiu reduzir, no período de um ano, em 80% o índice de gravidez na adolescência em 14 municípios do Vale do Ribeira, uma das regiões mais carentes do Estado e com as taxas mais altas de mães adolescentes. Batizada de Vale Sonhar, a iniciativa foi promovida pelo Instituto Kaplan em parceria com a Secretaria de Estado da Educação e o Fundo Social de Solidariedade de São Paulo.

Além de oferecer aulas de educação sexual, mostrando como funcionam os métodos contraceptivos e o corpo humano, o projeto investiu em uma metodologia diferente: fazer os adolescentes que estavam cursando o ensino médio pensar que sonhos teriam para a vida. Ao estimular os jovens a se imaginarem estudando, trabalhando, enfim, criando possíveis metas de vida para o futuro, eles interrompiam a atividade. E começavam novamente, dessa vez fazendo-os imaginar como seria se tivessem um filho ainda adolescentes.

‘Percebemos que esses jovens não tinham motivação para se preocupar com uma gravidez na adolescência. E não por falta de informação. Eles recebem informações de vários meios, mas ela não os atinge de verdade. Por isso tentamos outra abordagem, baseada em projetos de vida e no sonho, que é o que faltava para eles. Muitos desses adolescentes nunca haviam parado para pensar sobre seu futuro’, explica a coordenadora do projeto, Maria Helena Vilela.

Ao todo, foram capacitados 96 professores de 24 escolas. Juntos, eles trabalharam com cerca de 7 mil estudantes. Em 2004, quando o projeto começou, essas escolas tinham registrado 360 adolescentes grávidas nas salas de aula. Em 2005, após a inserção do projeto, foram 72. Duas cidades, Pariquera-Açu e Eldorado, não tiveram nenhuma adolescente grávida nas escolas participantes depois do projeto, que será retomado e ampliado para outras cidades no ano que vem.

Segundo o Ministério da Saúde, meninas de 10 a 20 anos respondem por cerca de 25% dos partos feitos no Brasil. Em regiões carentes, com Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) menor, os números são maiores. No Vale do Ribeira, por exemplo, essas jovens representam 28% das gestações.

ESCOLHAS
O primeiro contato do projeto foi com os professores, que participaram de cursos para aprender a conduzir as oficinas com os alunos – além de abordarem o tema em suas disciplinas curriculares. A primeira parte era justamente o sonho. Os adolescentes foram estimulados, a partir de sua realidade, a perceber que trajetórias futuras poderiam ter, que profissão gostariam de seguir e como poderiam realizar suas vontades.

‘Quando incluíam a gravidez nesse sonho, eles percebiam o impacto que ela tem quando acontece muito cedo, fora de hora’, diz o professor de biologia Ricardo Pinze dos Santos. ‘Falávamos sobre prevenção esporadicamente, mas nunca com uma abordagem desse tipo. Depois das aulas, percebemos que eles discutiam o assunto, que estavam pensando sobre aquilo.’

Depois disso, as oficinas enfocavam como funciona o corpo humano e o que ocorre em uma gestação. Por fim, os alunos discutiam os métodos existentes de prevenção, principalmente o uso da camisinha e da pílula. ‘A gente acha que nunca vai acontecer, mas, se acontecer, tudo bem. Mas depois que a gente pensa nas dificuldades que teria com um filho nessa idade, em como seria difícil estudar, ter uma profissão, fica diferente’, conta a aluna Marisa dos Santos, de 15 anos.