Projeto para piscinões ganha prêmio em Bienal

Folha de S.Paulo - Segunda-feira, 11 de junho de 2007

seg, 11/06/2007 - 12h17 | Do Portal do Governo

Folha de S.Paulo

Criar campos de futebol e pistas de skate no solo de reservatórios vazios na maior parte do ano, com passeios e praças nas margens, e interligados por linhas de ônibus que aproveitem um novo “circuito das águas paulistano”.

O sonho de dar uma cara nova à árida periferia paulistana, aproveitando os investimentos já previstos pelos piscinões, está no projeto “Vazios de água”, do escritório paulistano MMBB, que venceu o primeiro prêmio na Bienal de Arquitetura de Roterdã (Holanda) na semana passada.

Os arquitetos Fernando de Mello Franco, Milton Braga e Marta Moreira sugerem uma série de intervenções nos 42 piscinões já construídos, além de redesenhar os 89 em planejamento pelo governo estadual.

A proposta revaloriza os piscinões, reservatórios que evitam o despejo da água das chuvas no sistema de córregos paulistanos, evitando, por exemplo, enchentes no rio Tietê. Mas, na maior parte do ano, são apenas buracos vazios, encravados em favelas da cidade, à espera de chuvas.

“Já que essas áreas são as mais carentes de infra-estrutura urbana, o que nós sugerimos é conciliar a função de drenagem com uma urbanística, de melhorar a periferia”, diz o arquiteto Mello Franco.

Os piscinões são o plano B das áreas de várzea, onde deveria ocorrer a vazão das cheias. Como muitas dessas áreas estão urbanizadas ou ocupadas, os arquitetos sugerem que se aprenda com a natureza, e que favelas que estejam em cima das várzeas sejam transferidas aos locais previstos para novos reservatórios artificiais.

Agenda das enchentes

“As enchentes estão na agenda política da cidade porque têm impacto negativo na economia, então seria a oportunidade para melhorar regiões periféricas que estão desconectadas da cidade”, diz o arquiteto.

“Nossa periferia é amorfa, sem símbolos que criem afeto com o local onde se vive.”

Mello Franco lembra que drenagem e escoamento de águas pluviais já criariam espaços públicos como as Ramblas de Barcelona e os canais de Santos, no litoral paulista.

O arquiteto do MMBB disse acreditar que a cara do piscinão tem que ser mudada.

“Hoje ninguém quer um piscinão perto de casa. Temos que usar o potencial urbanístico e de paisagem do piscinão. Quem não quer morar na frente de algo que se aproxime mais do conceito do aterro do Flamengo do que do Minhocão?”, questiona.

Troféu e gaveta

Apesar do prêmio e do reconhecimento na Holanda, o projeto pode ser engavetado? “Torcemos que não. É ótimo receber prêmios, mas o melhor seria conversar com responsáveis pelos piscinões, há muitas coisas que podem ser feitas em conjunto”, diz Mello Franco.

Ele cita outras experiências em curso. “A instalação dos CEUs e o atual projeto de parques lineares da Secretaria do Verde levam em conta a distribuição dos córregos em São Paulo. Seria necessário articular todas essas iniciativas, algo sugerido pelo júri na Holanda.”

O tema da Bienal de Roterdã é “Poder Visionário – Produzir para a cidade contemporânea”. O prêmio dado aos paulistanos ganhou mais relevância porque o outro prêmio importante da Bienal, ao melhor trabalho de arquitetos holandeses, não foi entregue. “Nenhum dos projetos trouxe soluções concretas ou inovadoras”, disse o presidente do júri, Mels Crouwel.

“Há uma grande urgência porque as cidades estão explodindo. Como fazer com que os milhões de pessoas que migram para as grandes cidades tenham um mínimo acesso à infra-estrutura e virem cidadãos? Que papel os arquitetos devem ter?”, disse o diretor da Bienal, George Brugmans.

“O projeto do MMBB provoca esperança por levar às favelas a extensão da infra-estrutura existente na cidade. A arquitetura ainda pode fazer diferença”, diz Brugmans.