EDITORIAL
Ao assumir o cargo, na semana passada, o novo secretário de Habitação do Estado, Emanuel Fernandes, definiu como uma de suas principais prioridades a erradicação dos cortiços existentes no centro da Capital e das cidades de Santos e Campinas. É uma tarefa e tanto, não apenas por sua dimensão física, como particularmente pelo volume dos recursos necessários para tal empreendimento. Os cortiços centrais, como se sabe, constituem hoje um problema grave, que, se ainda não atingiu a extensão das favelas das periferias, está sem dúvida caminhando para isto. Ele resulta da decadência econômica de áreas urbanas antes bem-estruturadas e dinâmicas que, gradativamente, tiveram boa parte de suas atividades transferidas para outros bairros, os quais se valorizavam, enquanto os primeiros viviam situação oposta. Nestes, o preço de compra e dos aluguéis dos imóveis caía acentuadamente, atraindo populações de baixa renda. Não tendo mais como ser melhoradas, as edificações se degradavam mais e mais, passando a oferecer condições de moradia não raro indignas aos seus ocupantes. Assim se formaram os cortiços, e assim eles proliferaram.
Em Santos são inúmeros, e gerados exatamente pela causa citada, ou seja, o esvaziamento do chamado Centro Velho, a partir da queda do comércio do café e da mudança, para São Paulo, do comando das operações de comércio exterior. Empresas de diferentes portes e pessoas com bom poder aquisitivo foram para outros lugares, mas as casas ficaram, testemunhas da época de prosperidade do local. Foi o que ocorreu no Centro e em regiões adjacentes, como o Valongo, o Paquetá, a Vila Nova e, até, em trechos do Macuco e Vila Matias. Já está sendo levantado na Rua João Pessoa — aliás com contratempos — um pequeno conjunto para abrigar famílias dos cortiços. Porém, é pouco, diante do tamanho já adquirido por essa questão social. Por isso, a decisão do secretário de Habitação, de investir no setor, merece apoio. E mais ainda porque a idéia não busca só a simples substituição de moradias, e sim, em paralelo, todo um processo de revitalização econômica que torne o núcleo sustentável.
Convém destacar que o secretário Emanuel Fernandes tem experiência em assuntos habitacionais. Como prefeito de São José dos Campos, ele desenvolveu no município um programa de erradicação de favelas que é considerado uma das iniciativas mais eficientes até agora realizadas no País, nesse campo, o que permite acreditar que seu esforço no sentido de reduzir o número de cortiços em Santos será coroado de êxito. É com a maior expectativa, então, que se aguarda o detalhamento do projeto, no qual a Prefeitura decerto também terá um papel de grande importância.
