Professora incentiva leitura no Capão Redondo

Jornal da Tarde - Sábado, dia 9 de setembro de 2006

sáb, 09/09/2006 - 11h12 | Do Portal do Governo

MARIA REHDER, maria.rehder@grupoestado.com.br

Uma professora de escola pública do Capão Redondo, Zona Sul, região com um dos maiores índices de criminalidade da Capital, encontrou um meio para driblar as dificuldades de interpretação das notícias do cotidiano por seus alunos de Ensino Médio: desconstruir textos de revistas e jornais em classe.

“A minha última aula foi sobre o conflito do Líbano. Ao ler as notícias de jornais e discuti-las com os colegas na classe eu consegui entender o que está acontecendo por lá”, diz Mariana Paula Almeida Bela, 18 anos, aluna do último ano do Ensino Médio noturno, que durante o dia faz estágio na Caixa Econômica Federal.

A educadora responsável por essa “aula diferente” é Emirá Raci, professora da Escola Estadual Presidente Café Filho, que atua há mais de 30 anos na rede estadual . “Já tive alunos que chegavam ao ensino médio, que não conseguiam entender o conteúdo dos textos, principalmente os atuais.”

Segundo Emirá, o que garante o entendimento de seus alunos não é o fato de levar textos de jornais e revistas em sala de aula, mas sim promover uma leitura em conjunto. “Desconstruir os textos significa grifar palavras que pedem uma explicação à parte. Depois do debate de cada conceito em aula é que os alunos conseguem ter um entendimento real do tema e desenvolver o olhar crítico”, explica.

O livro didático é usado pela professora como suporte de aulas e os textos selecionados por ela, além das atualidades, são escolhidos de acordo com o contexto dos alunos. “No início do ano tivemos um estupro na comunidade. Para debater o tema com os alunos busquei textos acadêmicos que tratavam o surgimento histórico do abuso sexual, cujo assunto gerou em aula reflexão sobre o fato ocorrido no bairro.”

A professora ressalta que é necessária muita pesquisa e tempo de preparo das aulas. “Confesso que não é fácil, pois não tenho acesso à internet em casa e as revistas e jornais custam caro.”

A prática da professora Emirá pode parecer simples, mas faz a diferença no desempenho pedagógico de seus alunos. “Muitos não têm acesso à informação em casa nem possuem o hábito da leitura.”

Para Lázaro R. Oliveira, 17 anos, aluno do último ano do Ensino Médio noturno, que durante o dia trabalha no McDonald’s, o diferencial das aulas da professora Emirá é que ela não mede esforços. “Além dos jornais, ela traz filmes, explica os conceitos. Ela nem liga de ficar um pouquinho mais das 23 horas se a discussão com os alunos está boa”.