Procura por curso supletivo triplica nos últimos 8 anos

Correio Popular - Quinta-feira, 4 de agosto de 2005

qui, 04/08/2005 - 10h55 | Do Portal do Governo

Construção de 26 novas escolas estaduais no período facilitou acesso ao ensino

Nice Bulhões
Da Agência Anhangüera
nice@rac.com.br

O número de matrículas na Educação de Jovens e Adultos (EJA) na rede estadual de ensino de Campinas, no ciclo 2 do Ensino Fundamental (5ª a 8ª séries) e Ensino Médio, triplicou no período de 1997 a 2004, saltando de 5.781 alunos para 18.150. Este aumento na quantidade de estudantes nos cursos supletivos se deve, principalmente, à construção de 26 novas escolas estaduais na cidade nestes oito anos, de acordo com a diretorias de Ensino Leste e Oeste. A EJA do ciclo 1 do Ensino Fundamental — 1ª a 4ª série — hoje é atendida pela Fundação Municipal Para Educação Comunitária (Fumec). Entretanto, o Estado oferece o programa Alfabetização e Inclusão (PAI), que atende este mesmo público.

“Este acréscimo de matriculados na EJA da rede estadual se deve à expansão da rede, à exigência de nível de escolaridade no mercado de trabalho, à implantação da progressão continuada e das classes de aceleração”, afirmou o dirigente Antonio Admir Schiavo, da Diretoria de Ensino Campinas-Oeste. O aumento no número de matriculados na rede estadual de Campinas foi maior no EJA do Ensino Médio, crescendo 621% no período de 1997 a 2004. No ciclo 2 do EJA do Ensino Fundamental, o acréscimo foi de 30,4% nestes oito anos.

Apesar de muitas pessoas aproveitarem o tempo livre à noite ou nos finais de semana para recuperar o tempo escolar perdido, Campinas é a terceira cidade do Estado em analfabetismo juvenil, perdendo apenas para São Paulo e Guarulhos, conforme a pesquisa Fórum São Paulo Século 21. O levantamento foi organizado pela Assembléia Legislativa e concluído em 2000, mas com base em dados referentes a 1996. O município tem 4 mil jovens entre 11 e 24 anos analfabetos, de acordo com o levantamento. O EJA do Ensino Fundamental pode ser feito por alunos a partir dos 15 anos de idade. Para fazer o supletivo do Ensino Médio, é necessário ter 18 anos.

Recomeço

Depois de 15 anos, o pedreiro, pintor e eletricista Manoel de Jesus Frazão dos Santos voltou aos bancos escolares este ano. Com 29 anos, Santos contou que teve de parar de estudar para ajudar na renda familiar. “Minha família era pobre e tinha de trabalhar”, disse. “Voltei por uma necessidade do mercado de trabalho, que pede no mínimo o Ensino Médio”, disse. “Sempre me aparecia emprego bom, mas eu ficava para trás porque não tinha estudo”, lamenta. Hoje, faz EJA na Escola Estadual (EE) Jardim São Francisco-Rosalina, na região do Ouro Verde. Na mesma classe dele estuda Paula Gonzaga dos Santos, 20 anos. Ela parou os estudos quando estava na 5ª série, após engravidar. “Estava há seis anos sem ir ao colégio.”

Paula foi forçada a estudar. Agora, com dois filhos, um de 5 anos e outro de 1 ano e dois meses, Paula que ajudar o marido, que está desempregado. “Ele é pedreiro, e está fazendo alguns ‘bicos’ e quando volta do serviço, cuida das crianças para eu vir estudar”, explica. O marido cursou até a 2ª série do Ensino Fundamental.

Com 16 anos, Eder José de Paula Santos resolveu fazer o curso supletivo após repetir duas vezes na 7ª série. “Agora, encontro pessoas mais maduras e interessadas em estudar”, afirma. A diretora Elaine Soares Pimentel da EE Jardim S. Francisco-Rosalina, informou que a unidade oferece seis salas para a EJA, com média de 40 alunos por sala. “O mercado de trabalho exige nível de escolaridade”, ressalta.

Município investe na alfabetização de adultos

A rede municipal só iniciou o seu banco de dados sobre a EJA em 2000, de acordo com a Secretaria Municipal de Educação. Por isso, não existe estatísticas referentes a 1997 no ciclo 2 do EJA. No ano passado, foram 5.401 concluintes. As aulas são ministradas em 30 escolas. Já com relação ao ciclo 1 da EJA, o número de alunos aumentou de 5.045 alunos, em 1997, para 6 mil, em 2004. Com isso, a quantidade de salas saltou de 194 para 288 no período. Na próxima semana, a Fumec deve iniciar uma campanha de mobilização para criar novas salas e aumentar o número de alunos na suplência 1 da EJA.

“É preciso ter mais espaços físicos e aumentar o quadro de docentes, mas isto esbarra na limitação orçamentária’, disse o responsável pela suplência 2 da EJA, Robson Luís Machado Martins, por meio de sua assessoria de imprensa. “O público jovem tem buscado cada vez mais a formação e está forçando a Secretaria a rever a proposta de EJA.” Já quem quiser participar do projeto Letraviva, da Prefeitura de Campinas, tem até o próximo dia 26 para fazer a inscrição. É que o Ministério da Educação (MEC) prorrogou o prazo para cadastramento de novos alunos, educadores e entidades interessados em participar do projeto, que é vinculado ao Programa Brasil Alfabetizado, do governo federal.

As aulas são oferecidas, gratuitamente, para jovens acima de 15 anos e adultos que não sabem ler nem escrever. A Secretaria de Educação de Campinas informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que 60 grupos já estavam formados para a terceira fase do programa em Campinas até o final de julho. Neste ano, a meta é atingir 3 mil alunos e formar 200 educadores.

O curso de formação dos novos educadores do projeto ocorrerá nos próximos dias 13, 16, 17 e 18. A previsão é de que as aulas do Letraviva comecem no próximo mês. A duração de cada turma é de aproximadamente oito meses. Mais informações e inscrições podem ser feitas no Letraviva, que fica na Rua Dr. Quirino, 1.562, Edifício Aquarius, 6º andar. O telefone de contato é o (19) 3231-1344. (NB/AAN)