Procon quer rastrear em SP leite adulterado

O Estado de S.Paulo - Quinta-feira, 25 de outubro de 2007

qui, 25/10/2007 - 11h19 | Do Portal do Governo

O Estado de S.Paulo

O Procon de São Paulo, entidade de defesa do consumidor, anunciou ontem que solicitará às principais empresas de leite em caixas do tipo longa-vida que prestem esclarecimentos sobre o produto que compraram de duas cooperativas de Minas acusadas de adulterá-lo acrescentando soda cáustica e água oxigenada. O Procon-SP pretende saber se leite irregular está sendo vendido no Estado de São Paulo.

Também ontem, representantes da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), da Vigilância Sanitária de Minas Gerais, do Ministério da Agricultura e do Ministério Público do Estado de Minas Gerais realizaram uma reunião em Belo Horizonte e decidiram viajar a Uberaba para obter detalhes da operação e, depois, adotar as providências necessárias. Segundo a Anvisa, as empresas poderão sofrer sanções que vão de advertência a multa de até R$ 1,5 milhão.

No mesmo dia, duas comissões da Câmara dos Deputados – a de Agricultura e Pecuária e a de Defesa do Consumidor – aprovaram requerimentos para a realização de uma audiência pública conjunta a respeito do tema. Ainda não há data definida.

Numa operação realizada na terça-feira passada, a Polícia Federal prendeu 27 pessoas acusadas de crime contra a saúde pública. Elas são acusadas de acrescentar substâncias não permitidas ao leite vendido em caixas do tipo longa-vida. Os produtos adulterados, de acordo com investigações do Ministério Público Federal, saíam das cooperativas Casmil, na cidade de Passos (sudoeste de Minas), e Coopervale, em Uberaba (Triângulo Mineiro). O esquema existia havia dois anos, segundo os investigadores. A ação policial foi batizada de Operação Ouro Branco.

A Polícia Federal acredita que o esquema não tenha se limitado às duas cooperativas de Minas. Como parte das investigações, serão coletadas pelo menos 50 amostras de leite de várias empresas em todo o País.

REDUÇÃO DE CUSTOS

Ilegal, a adição de soda cáustica e de água oxigenada ao leite torna mais barato o processo de industrialização. Quando o produto tem microrganismos em excesso, em decorrência da falta de higiene, a água oxigenada age esterilizando-o. Substitui a refrigeração, que é o procedimento recomendado, mas mais caro. A soda cáustica acaba com a acidez do leite provocada por microrganismos – como o leite não está ácido, tem-se a impressão de que está livre de impurezas.

Segundo o técnico em laticínios Antônio José Xavier, da AEX Consultoria, a soda cáustica e a água oxigenada nas baixas quantidades adicionadas ao leite não provocam sozinhas danos à saúde. O problema é o fato de esses produtos químicos serem utilizados para “mascarar um leite que foi produzido sem as mínimas condições de higiene”. “Isso oculta problemas como rebanho doente e falta de refrigeração adequada. É um crime que cometem para reduzir custos”, critica o especialista.

Outra tática utilizada na adulteração era acrescentar água ao leite para aumentar o volume. Uma das conseqüências dessa prática é a diluição das proteínas – ou seja, cada caixa contém menos nutrientes do que deveria.

EMBALAGENS LACRADAS

De acordo com o Ministério Público de Minas Gerais, até agora não surgiram informações sobre pessoas que tenham sofrido problemas de saúde em conseqüência do consumo de leite adulterado.

Na Coopervale, em Uberaba, aproximadamente 1 milhão de litros estão interditados para consumo. As embalagens de leite integral da Centenário (ligada à Coopervale) foram lacradas nos supermercados da cidade do Triângulo Mineiro. Para o produto voltar a ser comercializado, será necessário um resultado favorável da análise laboratorial.