Primeiro livro de Bento XVI elogia Karl Marx

A obra é dividida em duas partes, apenas a primeira será publicada no dia 16

qua, 04/04/2007 - 12h32 | Do Portal do Governo

Da BBC Brasil

O papa Bento XVI elogiou Karl Marx, dizendo que o pai do comunismo “forneceu uma imagem clara do homem vitimado por bandidos” em trecho do livro Jesus de Nazaré, que será apresentado no dia 13 e colocado à venda no dia 16 de abril, quando Ratzinger faz 80 anos de idade.

Uma parte do texto foi divulgada nesta quarta-feira pelo jornal Corriere della Sera, do mesmo grupo da editora Rizzoli, que está lançando o livro do papa.

Neste trecho, Ratzinger cita a parábola do bom samaritano, do Novo Testamento, como exemplo de amor ao próximo e cita o filósofo alemão – que era ateu e afirmava que a igreja é “ó ópio do povo” – quando descreve o homem como vítima de exploração e opressão.

“O homem, no curso de sua história, foi alienado, torturado, explorado. A grande massa da humanidade viveu quase sempre na opressão. Por outro lado, os opressores são uma degradação do homem”, diz o texto.

“Karl Marx descreveu de maneira drástica a ´alienação´ do homem. Mesmo que não tenha atingido a verdadeira profundidade da alienação – porque raciocinava apenas em âmbito material – forneceu uma imagem clara do homem vitimado por bandidos.”

Os “bandidos” nesse caso são em referência a personagens da parábola do bom samaritano, tema de um dos dez capítulos do livro. Na parábola, um homem é assaltado, agredido e deixado na beira da estrada. Ele não é ajudado por seus compatriotas, mas socorrido por um estrangeiro.

´Estrangeiros´

Bento XVI deixa claro que o tema central do texto, é a necessidade de amar o próximo, mesmo que ele seja “estrangeiro”, tendo como exemplo a figura de Jesus.

O pontífice escreve que a atualidade desta parábola é “óbvia se for aplicada à sociedade globalizada” e compara a vítima ajudada pelo samaritano com a África.

“Os povos da África, furtados e saqueados nos olham de perto, assim podemos ver quanto estão próximos de nós e quanto nosso estilo de vida e nossa história os despiu e continua a despir, sobretudo quanto os ferimos espiritualmente”, escreve o papa.

De acordo com as palavras de Bento 16, “levamos aos povos africanos o cinismo de um mundo sem Deus, onde contam apenas poder e lucro, destruindo critérios morais e fazendo com que a corrupção e o desejo de poder sem escrúpulos se tornem óbvios”.

Estilo de vida

Esta análise não vale só para a África, na opinião de Ratzinger. Ele indica outros exemplos de situações que precisam de ajuda como “as vítimas da droga, do tráfico de pessoas, do turismo sexual, pessoas destruídas em seu íntimo, vazias mesmo tendo abundância de bens materiais”.

Ratzinger começou a escrever o livro Jesus, do Batismo no rio Jordão até o monte da Transfiguração em 2003, quando ainda não era papa. No prefácio, que em parte foi publicado no final do ano passado, o papa afirma que o texto não é um documento da Igreja Católica, mas apenas o que ele definiu como “a expressão de uma pesquisa pessoal”.

A obra é dividida em duas partes. No dia 16 vai ser publicada apenas a primeira, com o título de Jesus de Nazaré.

Matéria alterada às 11h12, para correção de informações