Preciosidades da arte da Idade Média

O Estado de S.Paulo - Sexta-feira, 23 de março de 2007

sex, 23/03/2007 - 11h52 | Do Portal do Governo

De O Estado de S.Paulo

Quase mil anos atrás, entre os séculos 11 e 13, Idade Média, o estilo românico era uma expressão cultural que predominava em diversas partes da Europa, principalmente nas localidades de raiz latina (Portugal, Espanha, norte da Itália, França). Naquele tempo, ‘a Europa era quase um país bárbaro’, como diz o historiador espanhol Juan Carlos Elorza, um território que os monges foram ‘colonizando’ com seus monastérios, ainda em suas palavras. Dessa maneira, era um estilo artístico e arquitetônico fincado na cultura cristã. É o que se vê na mostra Caminhos de Santiago – Arte no Período Românico em Castela e Leão, que acaba de ser inaugurada na Estação Pinacoteca. Pela primeira vez, mais de uma centena de peças sai da Espanha para o público brasileiro poder conhecê-las – a mostra foi apresentada entre novembro e fevereiro no Museu Histórico Nacional do Rio e agora chega a São Paulo.

São 110 obras, pinturas, esculturas e peças, tanto grandes como pequenas – dentre elas, apenas 2 são reproduções, os pergaminhos feitos por monges que não puderam deixar a Espanha dada sua fragilidade. ‘A exposição foi criada para dar uma panorâmica dos monumentos que os peregrinos cristãos que chegavam a Santiago de Compostela, passando pelo reino de Castela, viam nas igrejas, monastérios e castelos’, diz Juan Carlos Elorza, curador da mostra. São obras em ferro, madeira, marfim, cristal, pedra, todas elas expressões que adornavam os monumentos ou peças dos rituais litúrgicos que apresentam ‘os modos de vida, as crenças e os saberes dos europeus cujo principal elo era o pertencimento à cultura cristã’.

Os reinos de Leão e de Castela surgiram na época medieval, na região noroeste da atual Espanha, perto de Portugal, onde ficam cidades como Salamanca, Valladolid e Segovia. ‘O achado que se acreditava ser o sepulcro do Apóstolo Santiago, descoberto provavelmente na década entre os anos 820-830, durante o reinado de Afonso II, significou um acontecimento da máxima transcendência na história da Europa e especialmente na convulsa existência dos territórios da Península Ibérica. A partir de então, a peregrinação ao lugar santo que conservava as relíquias do apóstolo suporá, entre outras coisas, o renascimento de uma linguagem internacional na expressão das artes’, defende o curador Juan Carlos Elorza Guinea.

MENSAGENS DO CRISTIANISMO

Naquele momento em que o cristianismo se expandia, muitos dos temas presentes nas obras e adornos eram as representações de Cristo, as idéias de vida e morte e ressurreição. É o que se vê nos diversos núcleos da mostra Caminhos de Santiago, que segue uma ordem não cronológica, mas ideológica, como diz o curador.

O primeiro deles está relacionado aos elementos construtivos dos templos, com esculturas, estátuas e relevos. Há também, adiante, as obras relacionadas à catequese, já que ‘os cristãos eram analfabetos’, como diz Elorza, que representavam mensagens sobre o triunfo do bem sobre o mal, a salvação e a ressurreição de Cristo e toda a sua história, incluindo as passagens sobre sua infância, a matança das crianças inocentes pelo exército romano. No âmbito das mensagens, há um outro grupo de obras escritas e desenhadas pelos monges sobre os Evangelhos, que envolvem os acontecimentos de depois da morte de Cristo.

Depois, vem o núcleo que trata da crucificação, um dos principais, segundo o curador, com peças variadas, feitas de madeira policromada, em torno do tema, um dos mais explorados na técnica do entalhe românico. Cristo aparece de maneiras diferentes, por vezes com olhos abertos para ‘exaltar a idéia de seu triunfo sobre a dor e a morte’; por vezes, de cabeça baixa e corpo em ziguezague que mostram ‘um Cristo sofredor’ – essas obras são originárias de regiões diferentes e por isso guardam características diversas.

Outro segmento se dedica aos santos e imagens da Virgem (muitas vezes ela com o menino) – a escultura foi uma das técnicas que mais se desenvolveram na época românica – e aos cultos na Idade Média. Sobre este último assunto é possível ver cálices de ouro, relicários e candelabros.

(SERVIÇO)

Caminhos de Santiago – Arte no Período Românico em Castela e Leão – Séculos XI-XIII. Estação Pinacoteca. Largo General Osório, 66, telefone 3337-0185. De 3.ª a dom., 10 h às 18 h. R$ 4 (grátis aos sábados). Até 6/5