Poupatempo pode ser exportado

O Estado de S. Paulo - 9/9/2003

ter, 09/09/2003 - 9h47 | Do Portal do Governo

Representantes de Moçambique, Nicaraguá e Timor Leste já procuraram o governo

Por Marina Pauliquevis


O Estado de S. Paulo – Terça-feira, 9 de setembro de 2003

Depois de um ano e oito meses desempregada, Sueli Aparecida dos Santos, de 30 anos, conseguiu uma vaga como promotora de vendas. Como precisou reunir documentos para o registro, foi direto para o Poupatempo Sé, ontem à tarde. No posto, tirou o atestado de antecedentes criminais, fotocópias e fotografias. ‘Aqui tem serviços essenciais’, disse. ‘E o melhor é que é gratuito.’

Sueli é uma das 13 mil pessoas que passam diariamente por essa unidade do Poupatempo. Na área que tem 6 mil metros quadrados, é possível tirar carteira de identidade, renovar a habilitação e pedir o seguro-desemprego, entre outros serviços. No total, são 37 parceiros, entre órgãos do governo e empresas. O posto da Sé foi o primeiro a ser aberto, em setembro de 1997. No ano passado, foram atendidas cerca de 3,5 milhões de pessoas.

Esse volume de atendimento e a reunião de tantos serviços num só local têm chamado a atenção de outros países. Nos últimos dois meses, representantes do Timor Leste, de Moçambique e da Nicarágua procuraram o governo do Estado e receberam propostas elaboradas pelo Poupatempo e pela Fundação do Desenvolvimento Administrativo (Fundap) para a instalação dos postos.

De acordo com o superintendente do Poupatempo, Daniel Annenberg, os governos ainda não deram resposta sobre a possível exportação de know-how do programa. ‘Não sabemos se o Poupatempo e a Fundap seriam chamados para prestar consultoria sobre o assunto ou para desenvolver o serviço nesses países’, disse. Segundo o superintendente, no Timor Leste, os postos seriam feitos com recursos do Banco Mundial. Em sua opinião, o que tem chamado a atenção no exterior é o padrão de eficiência atingido pelas unidades Poupatempo. ‘Conseguimos oferecer serviço público com qualidade e rapidez’, acredita Annenberg.

Ele chegou a ir à Nicarágua para fazer palestras sobre esse tipo de prestação de serviço. O ministro de Administração de Moçambique preferiu conferir o funcionamento de perto e visitou postos na capital.

Senhas – O Estado do Pará também está interessado no programa do governo de São Paulo e já recebeu uma proposta. No documento, estão incluídas questões como formas de treinamento dos funcionários das centrais, sistema de informática eficiente para o programa e comunicação visual adequada.

Apesar do sucesso, o modelo provoca algumas críticas. Na primeira vez em que foi ao Poupatempo, ontem à tarde, o comerciante Ezequias Cacau de Castro, de 53 anos, cansou de esperar pela carteira de habilitação renovada. ‘Acho que eles tinham de simplificar mais o atendimento para justificar o nome Poupatempo’, disse. Depois de quase meia hora na fila, ainda havia 20 pessoas para serem atendida antes dele.

A promotora de vendas Sueli conseguiu um meio de esperar o atestado de antecedentes criminais sem se importar com fila longa. Pegou um livro de auto-ajuda para ler na Gibiteca da Secretaria da Cultura. ‘Aqui na Sé demora muito porque vem muita gente. Quem tem pressa precisa chegar logo cedo.’

Para começar a trabalhar no novo emprego, a advogada Paula Maria Kampf Beutler, de 25 anos, também recorreu aos serviços disponíveis no Poupatempo.

‘Depois de três horas, ainda não fui chamada para retirar meu atestado’, reclamou. ‘Os serviços mais procurados deveriam ter mais funcionários atendendo.’

Nos oito postos do Poupatempo, incluindo os de Guarulhos, São Bernardo do Campo, São José dos Campos e Campinas, trabalham 3.935 pessoas. Na unidade da Sé são 648. Para evitar as filas nos espaços reservados para cada órgão ou empresa, as pessoas são atendidas segundo a ordem das senhas. A espera é nos bancos de madeira dos corredores.

A artesã Lígia Gomes de Sá, de 28 anos, sai da Vila Guilherme, na zona norte, para ser atendida no centro. ‘Já vim aqui várias vezes e resolvi tudo num dia só’, afirmou. ‘E nunca esperei mais de meia hora para ser atendida.’