Poupatempo hi-tech ganha rodas para combater burocracia

O Estado de S. Paulo - Segunda-feira, 16 de maio de 2005

seg, 16/05/2005 - 10h04 | Do Portal do Governo

‘Já era pra eu ter tirado os documentos de casada faz tempo, mas estava enrolando. Agora, como vieram perto da minha casa, eu aproveitei. Em 15 minutos pedi CIC, RG e carteira de trabalho. Foi muito bom.’ A balconista Maria Vanusa Silva, moradora do Jabaquara, é apenas uma das cerca de 800 pessoas que procuram todos os dias a unidade itinerante do Poupatempo. Uma carreta recheada de computadores, onde o cidadão pode solicitar documentos de identificação e o atestado de antecedentes criminais. Ou usar o e-Poupatempo para tirar a segunda via de uma conta.

São pessoas que, muitas vezes, não têm dinheiro para a passagem de ônibus ou metrô para chegar a uma das 10 unidades do Poupatempo instaladas na cidade – como a da Praça da Sé; a primeira e a mais popular.

Criado em setembro de 2004, o Poupatempo Móvel leva parte dos serviços eletrônicos prestados à população para bairros carentes da Grande São Paulo. Passa duas semanas, em média, em cada local. Já foi ao Grajaú, ao Itaim Paulista, à Parada de Taipas, a Parelheiros, a Heliópolis e muitos outros lugares. Prova que o Estado tem condições de levar a inclusão social onde o povo está.

A estrutura inclui 19 máquinas (duas dos Correios) ligadas à internet e ao Centro de Processamento de Dados do Estado de São Paulo (Prodesp) via satélite. Foi montada pela CPM e pela ConnectBus, responsável pelo caminhão – dois, na verdade. Um carrega os equipamentos e o outro vira o posto de atendimento.

Uma tenda tem cadeiras, painel de senhas eletrônico e bebedouro de água. Lá, o único serviço cobrado é o CPF. Sai por R$ 4,50.

O autônomo Clodoaldo Rehem foi à estrutura montada no estacionamento de um hipermercado do Jabaquara para tirar a segunda via da carteira de identidade, que havia sido roubada.

Saiu elogiando o atendimento, mas não por ter de voltar dentro de alguns dias para retirar o documento – são 12 computadores só para o cadastramento de RGs, mas eles não são entregues na hora porque a emissão não é feita pelo Poupatempo.

Já a técnica em raio X Luci Marques, que levou os filhos para tirarem seus documentos, disse que o atendimento é até melhor que a do Poupatempo ‘fixo’. ‘Aqui é mais rápido, não tem comparação. Fui ao outro quando estava grávida, peguei fila especial e mesmo assim demorou muito mais’, conta.

Esse atendimento rápido é fruto da estratégia de se dedicar a uma região por vez, mas também é obra da sorte: nos últimos dias, a fila chega a abrigar até 200 pessoas e o tempo de espera sobe para até 3 horas.

‘A propaganda boca-a-boca funciona. Um vizinho avisa o outro e todo mundo vem’, explica Daniel Roberto de Ponte, da coordenação do Poupatempo Móvel.

A equipe também atende gente que só vai pedir ajuda ou informação. O que fazer com o boleto bancário? Onde fica o posto de saúde mais próximo?

Geralmente, as histórias de vida são bem ricas. Ponte já presenciou casos comoventes de gente que perdeu tudo, ou nunca teve muita coisa. Como a de uma senhora de 92 anos que chegou com filha, neta e bisneta com a certidão de casamento em mãos e queria ter um RG. Ou a de outra senhora, de 60 anos, que nunca havia tirado nenhum documento – tinha apenas uma certidão de nascimento escrita à mão, quase ilegível.

Um banner na entrada do Poupatempo Móvel, que cita a Constituição Brasileira, resume o espírito do lugar: ‘Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza.’ (R.M.)