‘Já era pra eu ter tirado os documentos de casada faz tempo, mas estava enrolando. Agora, como vieram perto da minha casa, eu aproveitei. Em 15 minutos pedi CIC, RG e carteira de trabalho. Foi muito bom.’ A balconista Maria Vanusa Silva, moradora do Jabaquara, é apenas uma das cerca de 800 pessoas que procuram todos os dias a unidade itinerante do Poupatempo. Uma carreta recheada de computadores, onde o cidadão pode solicitar documentos de identificação e o atestado de antecedentes criminais. Ou usar o e-Poupatempo para tirar a segunda via de uma conta.
São pessoas que, muitas vezes, não têm dinheiro para a passagem de ônibus ou metrô para chegar a uma das 10 unidades do Poupatempo instaladas na cidade – como a da Praça da Sé; a primeira e a mais popular.
Criado em setembro de 2004, o Poupatempo Móvel leva parte dos serviços eletrônicos prestados à população para bairros carentes da Grande São Paulo. Passa duas semanas, em média, em cada local. Já foi ao Grajaú, ao Itaim Paulista, à Parada de Taipas, a Parelheiros, a Heliópolis e muitos outros lugares. Prova que o Estado tem condições de levar a inclusão social onde o povo está.
A estrutura inclui 19 máquinas (duas dos Correios) ligadas à internet e ao Centro de Processamento de Dados do Estado de São Paulo (Prodesp) via satélite. Foi montada pela CPM e pela ConnectBus, responsável pelo caminhão – dois, na verdade. Um carrega os equipamentos e o outro vira o posto de atendimento.
Uma tenda tem cadeiras, painel de senhas eletrônico e bebedouro de água. Lá, o único serviço cobrado é o CPF. Sai por R$ 4,50.
O autônomo Clodoaldo Rehem foi à estrutura montada no estacionamento de um hipermercado do Jabaquara para tirar a segunda via da carteira de identidade, que havia sido roubada.
Saiu elogiando o atendimento, mas não por ter de voltar dentro de alguns dias para retirar o documento – são 12 computadores só para o cadastramento de RGs, mas eles não são entregues na hora porque a emissão não é feita pelo Poupatempo.
Já a técnica em raio X Luci Marques, que levou os filhos para tirarem seus documentos, disse que o atendimento é até melhor que a do Poupatempo ‘fixo’. ‘Aqui é mais rápido, não tem comparação. Fui ao outro quando estava grávida, peguei fila especial e mesmo assim demorou muito mais’, conta.
Esse atendimento rápido é fruto da estratégia de se dedicar a uma região por vez, mas também é obra da sorte: nos últimos dias, a fila chega a abrigar até 200 pessoas e o tempo de espera sobe para até 3 horas.
‘A propaganda boca-a-boca funciona. Um vizinho avisa o outro e todo mundo vem’, explica Daniel Roberto de Ponte, da coordenação do Poupatempo Móvel.
A equipe também atende gente que só vai pedir ajuda ou informação. O que fazer com o boleto bancário? Onde fica o posto de saúde mais próximo?
Geralmente, as histórias de vida são bem ricas. Ponte já presenciou casos comoventes de gente que perdeu tudo, ou nunca teve muita coisa. Como a de uma senhora de 92 anos que chegou com filha, neta e bisneta com a certidão de casamento em mãos e queria ter um RG. Ou a de outra senhora, de 60 anos, que nunca havia tirado nenhum documento – tinha apenas uma certidão de nascimento escrita à mão, quase ilegível.
Um banner na entrada do Poupatempo Móvel, que cita a Constituição Brasileira, resume o espírito do lugar: ‘Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza.’ (R.M.)