Poluição no Tietê

O Estado de S.Paulo - Quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

qui, 28/02/2008 - 17h50 | Do Portal do Governo

O Estado de S.Paulo

Interesses políticos, falta de articulação entre governos e de visão administrativa estão prejudicando o andamento do projeto de despoluição do Rio Tietê. Nos últimos 16 anos, o governo estadual, por meio da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) e da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb), realizou obras de rebaixamento e alargamento da calha do rio, o que permitiu maior vazão e, conseqüentemente, maior dispersão dos elementos tóxicos despejados no rio. Além disso, reduziu a poluição industrial – das 1.160 indústrias poluidoras identificadas em 1992, apenas 200 continuam poluindo o rio. E estações de tratamento inauguradas nos últimos dez anos ampliaram de 4 m3 para 11 m3 por segundo o volume de esgoto tratado na região metropolitana.

Foram R$ 3 bilhões investidos com uma previsão de, no fim de 2007, fazer a mancha de poluição do rio recuar 160 quilômetros. Meta difícil de ser alcançada porque mais de metade dos municípios da região metropolitana ainda despeja esgoto in natura no rio e mais de 250 prefeituras da área da Bacia do Tietê pouco ou nada investiram na proteção do rio, como, por exemplo, na contenção da erosão. Na visão estreita de muitos prefeitos, a participação no Projeto Tietê apenas fortalece uma bandeira política do PSDB. Como resultado, a mancha de poluição recuou 120 quilômetros – até a altura de Porto Feliz -, 40 quilômetros a menos do que o esperado.

Na região mais rica e desenvolvida do País, somente a cidade de Biritiba Mirim trata 100% do esgoto coletado. Dos 34 municípios que compõem a região metropolitana, 19 não tratam o esgoto, que é lançado nos córregos e rios que deságuam no Tietê. Diariamente, 690 toneladas de esgoto são lançadas no rio mais importante do Estado.

Em 1992, esse abuso produzia uma mancha de poluição que começava em Itaquaquecetuba, próximo da nascente do rio, e se estendia até Anhembi, nas vizinhanças da Represa de Barra Bonita. Hoje, como mostrou reportagem publicada domingo no Estado, a pouco mais de 100 quilômetros da capital, o índice de oxigênio nas águas do Tietê dobrou e a pesca voltou a fazer parte das atividades de municípios como Porto Feliz, Cabreúva e Anhembi.

É uma vitória, mas os resultados poderiam ser muito melhores se todos os prefeitos dos municípios da bacia do rio tivessem colaborado.

Em São Caetano, por exemplo, cidade que tem um dos melhores índices de qualidade de vida do País, 100% do esgoto é coletado e despejado in natura no rio, mas o tratamento só começará a ser feito no segundo semestre – um atraso injustificável para um município rico e que tem em sua vizinhança uma estação de tratamento de esgoto da Sabesp com capacidade suficiente para atender à demanda.

Em alguns casos, a pressão da opinião pública tem levado governos locais a tentar recuperar o tempo perdido. Guarulhos, por exemplo, sustentou durante anos uma disputa sem propósito com o governo do Estado e com a Prefeitura de São Paulo, porque se recusava a tratar seus dejetos, despejados in natura no rio. A atitude da administração da terceira cidade mais populosa do Estado anulava trabalhos de saneamento, inclusive a despoluição de 42 córregos, feita em conjunto pela Sabesp e pela Prefeitura da capital. Agora, a prefeitura de Guarulhos promete construir estações de tratamento de esgoto e utilizar a unidade que a Sabesp instalou em São Miguel Paulista.

Assim como as prefeituras têm de fazer o que lhes cabe na coleta e tratamento do esgoto, os consumidores também precisam arcar com os custos da conexão das redes domésticas à rede pública, evitando o despejo irregular em galerias pluviais ou córregos. O valor da conta de água e esgoto aumenta, de fato. Mas o custo de não fazer as ligações, em termos de saúde pública e qualidade de vida, é muito maior.

No segundo semestre, o governo estadual iniciará a terceira etapa do Projeto Tietê, que consistirá na universalização da coleta de esgoto e no combate à poluição nos afluentes do rio, investindo mais R$ 3 bilhões em dez anos.