Pólos nascem para ‘blindar’ interior da crise

Folha de S. Paulo - São Paulo - Domingo, 28 de novembro de 2004

dom, 28/11/2004 - 14h09 | Do Portal do Governo

Em diversas cidades do país, pequenos empresários se juntam para ampliar negócios e criar empregos e renda

FÁTIMA FERNANDES
ENVIADA ESPECIAL A CERQUILHO E A CONCHAS

CLAUDIA ROLLI
ENVIADA ESPECIAL A TATUÍ E A ITU

Edison Landucci, 42, ex-gerente de uma fábrica de cuecas em Cerquilho (SP), decidiu investir na própria empresa. O negócio, que começou na sala de sua casa em 1992 com a ajuda da mulher e de uma costureira, é hoje uma das maiores confecções infantis da cidade. Contrata serviços de 117 mulheres para produzir 7.000 peças por mês, o que resulta em receita anual de R$ 500 mil.

Landucci é dos um dos 30 empresários de Cerquilho que vão formar um novo pólo produtivo no interior de São Paulo. Para melhorar a competitividade do negócio, aumentar as vendas no país e chegar a novos mercados no exterior, centenas de outros pólos -de jóias a bichos de pelúcia- se alastram pelo interior do Brasil.

A falta de uma política industrial levou esses pequenos empresários a se unirem para fazer uma ‘blindagem’ contra a crise que afetou a economia nos últimos anos. De 2000 até agora foram identificados pelo menos 500 pólos produtivos no Brasil. Surgiram para enfrentar a retração do consumo, em conseqüência das quedas do emprego e da renda.

Conhecidos como APLs (Arranjos Produtivos Locais), esses grupos, que reúnem pequenas empresas, exploram uma mesma atividade numa mesma região. Em vez de competirem entre si, trabalham em parceria para aumentar o faturamento.

Até o final dos anos 90, a união dos empresários era espontânea e ocorria por afinidade. Hoje, esses arranjos locais são necessários não só para a sobrevivência das pequenas empresas mas também para gerar renda e emprego nas cidades. Mais: são uma forma de conter a migração de trabalhadores para as regiões metropolitanas, onde o desemprego é maior.

O Sebrae apóia 230 arranjos produtivos no país, que reúnem 80 mil pequenos negócios e 800 mil pessoas. Esse amparo aos empresários começou há cinco anos e, desde o final de 2003, faz parte da política pública do governo. No Estado de São Paulo, o Sebrae SP orienta 18 projetos, envolvendo 550 empresas e 44 mil pessoas.

O governo paulista acompanha 31 arranjos de indústrias, com o objetivo de estimular o crescimento do interior. ‘Além de interiorizar o desenvolvimento, esses pólos diminuem a migração para a metrópole e criam condições de emprego’, diz Luigi Giavina Bianchi, secretário-executivo da Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo.

Impulsionadas por esses pólos, algumas regiões do Estado surpreendem na criação de empregos. Cidades como Santa Bárbara d’Oeste e Diadema elevaram o nível de emprego industrial em 8% de janeiro a setembro deste ano. Em 23 das 33 regiões pesquisadas pelo Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), o crescimento do emprego foi maior do que o da Grande São Paulo (3,6% no período).

‘Os arranjos produtivos levam os empresários a dividir experiências, tecnologia, compra de matéria-prima e até empréstimos. Resolvem os problemas de gargalos de crescimento’, afirma Claudio Vaz, presidente do Ciesp.

Cosméticos

Em Diadema, um dos setores que puxam o aumento do emprego é o pólo de cosméticos, formado por 65 empresas. Das 4.406 vagas com carteira assinada abertas de janeiro a outubro deste ano na cidade, 28% vêm desse setor, informa a Prefeitura de Diadema.

O impacto dos pólos na economia das regiões acaba de ser medido pelo Sebrae. Levantamento com 29 arranjos e 510 empresas mostra que, de outubro de 2003 a novembro deste ano, o faturamento de metade das empresas desses APLs subiu 29%, em média. As contratações cresceram em 37% das empresas -o aumento médio também foi de 29%.

‘As empresas que participam dos arranjos crescem mais do que as que estão fora deles porque trabalham de forma mais organizada’, diz Luiz Carlos Barboza, diretor técnico do Sebrae.