“Política de juros é desnecessária, teimosa e inexplicável”, diz secretário

Valor Econômico - Quarta-feira, 18 de abril de 2007

qua, 18/04/2007 - 12h20 | Do Portal do Governo

Valor Econômico

Ex-ministro do Planejamento e ex-secretário de finanças do município de São Paulo, o economista João Sayad diz que o melhor antídoto para o fortalecimento do Real e para combater o baixo crescimento do Brasil é a redução na taxa de juros do país. Para ele, a política de juros do governo de Luiz Inácio Lula da Silva é “desnecessária, teimosa e inexplicável”. “A periferia das grandes cidades que chama a atenção de todos os formuladores de política pública no Brasil é a imagem física da falta de crescimento econômico”, afirma Sayad.

Em sua opinião, quando o governo anuncia que as taxas de juros nunca caíram tanto, ele ignora que a inflação caiu muito mais nesse mesmo período e que a taxa de juros real continua em torno de 10%, a mais alta do mundo. A boa notícia na economia brasileira se restringe à estabilidade monetária. “Há um regozijo com a expectativa de que o país se tornará ‘investment grade’, mas a regra do sistema financeiro é que se empresta dinheiro a quem não precisa. Nós vamos ter ‘investment grade’ quando não precisamos de dólar. Isso não muda nossa baixa taxa de crescimento”, afirma. Para o secretário, se o Banco Central mantiver a queda de 0,25 ponto percentual a cada 45 dias até o fim do ano, o Brasil teria uma taxa de juros real ainda superior à da Turquia, a segunda mais alta do mundo, mas, mesmo assim, a economia seria imensa .”Hoje, nós gastamos 5% do PIB em juros. Neste cenário de queda dos juros, teríamos uma economia de cerca de R$ 75 milhões. Imagine esse montante nas mãos do governo para gerar investimentos. Os juros altos são uma teimosia inexplicável.”

Sayad diz que o discurso em torno do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), promovido pelo governo Lula, ignora a discussão a respeito das altas taxas de juros. “É o PAC de um lado e os juros do outro. Torcemos para que o PAC seja efetivado. Mas as taxas de juros continuarão um obstáculo.”

Em sua opinião, com uma taxa de juros mais baixa, a política de compra de dólares pelo Banco Central seria favorecida. “Manter essa política cambial custa cerca de US$ 4 bilhões por ano, pois o BC capta a cerca 8% e aplica a cerca de 4%. Se os juros fossem mais baixos, mais próximos da média internacional, reduziríamos esse custo para US$ 2 bilhões.”

Sayad contesta o argumento de economistas ortodoxos de que os juros são altos por causa da dívida pública do Brasil. “A dívida está em níveis razoáveis. Está em trajetória de estabilidade ou decréscimo. Se ela não cai mais rápido é por causa do juro. O déficit público nominal brasileiro, da ordem de 3,5%, tem como fonte os juros. Se os juros fossem mais baixos, estaríamos em equilíbrio fiscal. É uma explicação invertida”, diz.