Polícia estoura cativeiro no ABC

Jornal da Tarde - Sexta-feira, 27 de fevereiro de 2004

sex, 27/02/2004 - 9h33 | Do Portal do Governo

ÁLVARO MAGALHÃES

O representante comercial Arnaldo Dantas dos Santos, de 53 anos, seqüestrado por uma quadrilha de São Vicente há nove dias, foi libertado pela polícia ontem do cativeiro. Dez pessoas foram presas e um dos criminosos que tomavam conta da vítima morreu. O líder do bando, Luiz da Silva, e André Luiz Leal Bispo, procurados desde 1998 por crimes na Baixada Santista, estão foragidos. Foi a segunda vez que a família Santos teve de negociar com seqüestradores. Há dois anos, o próprio representante teve de negociar a libertação de seu filho.

Santos é a segunda vítima de seqüestro libertado nesta semana cujo filho já havia ficado em cativeiro. Na quarta-feira, a polícia prendeu três homens que mantinham sob seu poder João Vieira Ferreira – que no ano passado teve o filho seqüestrado. Mas, ao contrário do caso de Ferreira, não há suspeitas de que os homens que seqüestraram Santos sejam os mesmos que pegaram seu filho.

O cárcere era um quarto num sítio de Riacho Grande, em São Bernardo. Lá, porém, estavam apenas dois criminosos e um caseiro, também detido. O resto do bando, responsável pela negociação, foi preso na Baixada. Segundo a polícia, os líderes dos criminosos tinham decretado: caso o resgate de R$ 300 mil não fosse pago, Santos seria morto.

A família só conseguiu juntar R$ 20 mil e já havia entregue o dinheiro para que o representante continuasse vivo por mais alguns dias. Santos foi espancado durante todos os dias. Levou chutes e coronhadas para que falasse nome de outros parentes – mais ricos que seu cunhado, responsável pelas negociação. “Durante todos esses dias, eu me sentia um verme, alguém que o mundo tinha esquecido”, disse logo depois de libertado.

No cativeiro, o representante não conseguiu dormir, passou todo o tempo amarrado. E comeu pouco. “Eu rezava sempre e procurava acreditar na polícia”, contou. Sabia que poderia ser assassinado e o feriado de carnaval dificultava as coisas para sua família. Os bancos estavam todos fechados e não havia como pedir empréstimos ou sacar uma grande quantia de dinheiro.

“Cada segundo parecia um minuto; cada minuto, uma hora; cada hora, um dia.” Ele tinha sido pego pelos criminosos quando deixava seu escritório, na terça-feira da semana passada, em São Bernardo. Três seqüestradores, vestidos com coletes do GOE, simularam uma batida policial.

O delegado Paul Henry Bozon Verduraz, da Divisão de Investigações sobre Entorpecentes, descobriu os celulares usados pelo bando. Todos estavam cadastrados com o mesmo nome falso. Verduraz identificou nas escutas os esconderijos e pediu mandado de busca.

O criminoso morto na troca de tiros foi identificado como Rivaldo Pereira. Com ele estava Rodrigo Martins Rodrigues e o caseiro Cícero Cassiano dos Santos. O resto do bando – Andrea Pereira, Maria de Lourdes Pereira, Talita Leal Moreira, Rafaela Leal Moreira, Maviel Borba Cruz, Danilo Cruz Capistrofo, Marcos Santana Durão e um homem conhecido como Popó – foi preso em São Vicente. Além dos dois líderes, Deivis de Bellis continua foragido.