Polícia contra-ataca e PCC sofre seu maior golpe

O Estado de S. Paulo - 24/5/2002

sex, 24/05/2002 - 11h19 | Do Portal do Governo

Investigação de quatro meses permite 18 prisões e desvenda quem é quem na facção criminosa

Uma megaoperação da polícia foi o desfecho de uma investigação realizada em sigilo nos últimos quatro meses com o objetivo de desarticular a cúpula do Primeiro Comando da Capital (PCC). Por meio de grampo telefônico, a polícia obteve informações que permitiram esclarecer crimes e desvendar o organograma do partido.

A Polícia Civil prendeu, durante as investigações, 18 pessoas, entre as quais 3 advogados, identificou 41 chefes da facção e desativou 32 centrais telefônicas. A Polícia Militar revistou ontem simultaneamente 15 prisões: apreendeu 159 celulares, 98 papelotes de cocaína, 309 trouxinhas de maconha, 12 pedras de crack, 498 estiletes e 44 facas.

O governo decidiu transferir 25 chefões do PCC para o recém-inaugurado Centro de Reabilitação Penitenciária (CRP) de Presidente Bernandes, primeiro presídio de segurança máxima com bloqueador de ligações de celular. A transferência será feita num avião da Força Aérea Brasileira (FAB). “Nosso objetivo com essa operação foi desmantelar o PCC”, afirmou o secretário da Segurança, Saulo Abreu.

Entre os transferidos estão os homens do primeiro escalão do partido, Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, César Augusto Roris, o Cesinha, e José Márcio Felício, o Geleião. Para lá também será enviado Anselmo Neves Maia, de 57, advogado do PCC e candidato a deputado federal pelo PMN. Maia foi preso ontem de manhã, em seu apartamento, na Vila Prudente, na zona leste, após a Justiça decretar sua prisão temporária por 15 dias.

A grande arma da investigação da polícia foi a mesma que fez a força do PCC: o telefone celular. Com autorização judicial, o Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado (Deic), por meio da Divisão de Investigações de Crimes Contra o Patrimônio, grampeou mais de cem telefones de bandidos, advogados, parentes e amigos dos presos suspeitos de envolvimento em crimes.

Revelações – O retrato traçado nas 470 horas de gravação demonstrou que o PCC contava com três advogados que, no entender da polícia, extrapolaram sua atividade e se tornaram cúmplices. Por isso, estão sendo acusados de formação de quadrilha. Além dessa acusação, Maia é suspeito de ter levado a ordem da cúpula da organização para que o agente penitenciário Ronaldo Cain Zedan fosse morto. O ataque ocorreu em 11 de abril. Zedan levou três tiros, mas sobreviveu.

O advogado é suspeito ainda de envolvimento no ataque a uma delegacia de Sumaré, que terminou na morte de dois policiais civis. “Meu pai é inocente. Vamos pedir indenização pelo que está sendo feito”, disse o estudante Plínio Marcos Neves Maia, de 27 anos.

Já a advogada Leyla Maria Alambert deve ser acusada de participar de um seqüestro feito pelo PCC na Baixada Santista. A terceira advogada presa foi Monica Fiore Hernandez. Ambas ficarão no CRP de Taubaté.

As conversas gravadas e depoimentos mostram que o partido tem ligações no Rio, pois três dos integrantes da cúpula estão detidos no Estado – eles são conhecidos como Chapolim, Marcelo e Donizete. Há ainda ligações da facção com presos no Paraná, em Mato Grosso do Sul e na Bahia, onde está José Eduardo Moura da Silva, o Bandejão. De lá, Bandejão ordenou, pelo celular, em 3 de abril, a morte de Jefferson Vaz de Lima, ocorrida no 20º Distrito Policial de São Paulo.

Baixada – De acordo com o diretor do Deic, Godofredo Bittencourt Filho, a polícia conseguiu estabelecer a autoria de atentados a bomba contra fóruns e impedir assaltos a bancos. Os policiais tiveram sucesso também na libertação de duas vítimas seqüestradas pela quadrilha do PCC na Baixada Santista. O bando, um dos principais do partido, também é responsável pelo atentado a bomba e a tiros ao fórum de São Vicente, no qual morreu um advogado, em março.

Os principais executores do seqüestro e do atentado ao fórum foram presos em Santos: Marcelo Calixto Costa e Sérgio Luis Fidélis. Parte do dinheiro do resgate das vítimas, uma mulher e um menino, seria dado a Sandro Henrique da Silva Santos, o Gulu, homem de confiança de Cesinha. Partiu de Gulu a ordem para libertar os dois. “Nosso trabalho continuará”, disse o diretor do Deic.

O secretário-adjunto da Administração Penitenciária, José Carneiro Rolim Neto, informou ontem que a licitação para a compra de bloqueadores de celulares para penitenciárias paulistas estará pronta em 15 dias. O governo prevê gastar R$ 2 milhões com os aparelhos.

Marcelo Gogoy