Polícia apreende 200 aves na ‘Feira do Rolo’

O Estado de São Paulo - 29/4/2002

seg, 29/04/2002 - 11h44 | Do Portal do Governo

Rua de Diadema vira autêntico mercado persa aos domingos; 20 pessoas foram detidas

A Polícia Civil realizou ontem uma blitz na ‘Feira do Rolo’, em Diadema, Grande São Paulo, um autêntico mercado persa onde se vende de tudo. Com o apoio de uma organização não-governamental (ONG) que luta pela preservação da fauna, policiais apreenderam cerca de 200 aves que eram vendidas ilegalmente e sofriam maus-tratos. Trinta pessoas foram detidas e encaminhadas ao 1º Distrito da cidade. Fiscais do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) também participaram da operação.

A ‘Feira do Rolo’ é realizada todos os domingos pela manhã na Rua Tupi, no bairro Serraria, há pelo menos dez anos. O visitante pode achar qualquer tipo de produto, de motores de geladeira a carrinhos de bebê. O problema é que pessoas honestas que desejam trocar algum utensílio doméstico convivem com criminosos que querem passar adiante bens roubados, principalmente toca-fitas e peças de veículos.

Foi nessa feira que um dos integrantes da quadrilha que seqüestrou e matou em fevereiro o prefeito de Santo André, Celso Daniel, comprou um revólver utilizado no crime. ‘Dei um tiro no pneu traseiro da Pajero com uma arma comprada por R$ 1 mil na ‘Feira do Rolo’ em Diadema’, confessou à polícia Rodolfo Rodrigo dos Santos Oliveira, o Bozinho, referindo-se ao veículo do qual os bandidos tiraram Daniel na noite do seqüestro.

Além dos produtos de roubos e furtos, o que mais preocupa a polícia é a venda de animais, principalmente aves. A operação de ontem estava planejada havia uma semana e contou com a participação de 90 policiais do Departamento de Polícia da Macro São Paulo (Demacro) e da Seccional de Diadema. A entidade SOS Fauna colaborou com os investigadores na blitz, ajudando a identificar os animais em condições precárias.

Pintassilgos – Entre as centenas de aves apreendidas ontem estavam papagaios, pintassilgos, araras e algumas espécies em risco de extinção, como o chupim-do-brejo e a araponga. Uma veterinária e duas biólogas, ligadas à ONG, além de outros voluntários, ficaram encarregados de cuidar dos animais, limpando gaiolas e fornecendo a alimentação e curativos necessários.

‘É um absurdo o que pessoas sem o mínimo de preparo fazem com estes bichos na feira’, disse o presidente do SOS Fauna, Marcelo Pavlenco Rocha.

‘Tem gente que chega a escondê-los em fundos falsos nos carros.’ De acordo com ele, voluntários da SOS Fauna, fundada há dois anos, têm recebido ameaças por investigarem denúncias de maus-tratos a animais.

O negócio ilegal de venda de animais é altamente lucrativo. Um papagaio adulto, que custaria R$ 1.500,00 num criadouro autorizado pelo Ibama, sai na ‘Feira do Rolo’ pela bagatela de R$ 150,00. Um currupião, avaliado em R$ 200,00 no mercado legal, custa R$ 70,00 em Diadema. Segundo Rocha, que vem investigando a feira há um ano, são vendidas aproximadamente 600 aves a cada domingo na Rua Tupi.

O delegado seccional de Diadema, Reinaldo Correia, afirmou que só com mega-operações como a de ontem será possível combater os criminosos e reprimir a venda de produtos ilegais na feira, visto que é praticamente impossível fechá-la. ‘Há pessoas honestas lá, que vão trocar ou vender objetos antigos. Temos é que impedir a presença de criminosos com peças roubadas e as pessoas que não tratam bem os animais’, falou Correia.

‘Olheiros’ – Uma das dificuldades para o trabalho policial são os ‘olheiros’ da feira. Eles ficam em pontos estratégicos da Rua Tupi, atentos a qualquer movimentação estranha. Quando percebem a presença da polícia, soltam rojões para avisar os donos de mercadorias ilícitas. ‘Nessa hora todo mundo sai correndo e fica quase impossível detê-los’, afirmou o delegado.

‘Não sabia que não podia vender os pássaros aqui. Venho quase todo fim de semana e ninguém tinha me falado nada’, afirmou Manuel Vital Costa, um dos detidos. Ele pretendia vender 20 aves na ‘Feira do Rolo’.

Punição – De acordo com fiscais do Ibama que participaram da operação, Costa e as outras 29 pessoas detidas pela polícia vão ter de pagar multas de R$ 500,00 por pássaro. O valor sobe para R$ 3.000,00 se a ave estiver ameaçada de extinção.

Luciano Cavenagui