PM mora na base com a família

Jornal da Tarde

qui, 22/04/2010 - 7h40 | Do Portal do Governo

Modelo de policiamento japonês será inaugurado hoje em Mogi das Cruzes. São 34 em todo o Estado

Com mulher, dois filhos, dois cachorros e passarinho, o cabo Nunes mora na base comunitária de Pindorama, em Mogi das Cruzes. Aliás, a casa dele é a própria base da Polícia Militar. Chamada de base distrital, ela será inaugurada oficialmente hoje.

O nome original é chuzaisho porque é baseado em um modelo de policiamento japonês. Esta é a primeira da região metropolitana. No Estado existem outras 33.

A proposta do chuzaisho é que o policial militar viva com a família na base justamente para integrá-lo à comunidade e para que seja referência para a população.

“Antes nós tínhamos uma base onde ficavam quatro policiais. Agora com a base distrital, temos o Nunes, um único policial que cuida da área e tem o respaldo dos moradores”, explica Milton Sussumu Nomura, comandante da PM do Alto Tietê. Ele patrulha três bairros onde moram 3,7 mil pessoas numa área de 80 km2.

Para testar se a base distrital daria certo na região, o cabo se mudou para lá em dezembro de 2008. Tanto os moradores como a PM dizem que houve redução de violência. Dados da corporação mostram queda de 45% nos registros de ocorrências comparando o primeiro trimestre de 2009 com o mesmo período deste ano. Os números da Associação Rural de Pindorama apontam que em 2008 foram 113 ocorrências contra 37 o ano passado.

Se por um lado o policial e a família viram referência para a região, eles também ficam vulneráveis à ação dos bandidos que costumam atacar bases. “Mas é uma vulnerabilidade calculada”, diz o comandante. É por isso que o sistema não é indicado para áreas violentas.

O chuzaisho é resultado de convênio entre Estado, prefeitura e moradores. O terreno da base é do município. A construção do imóvel de 120 metros quadrados custou cerca de R$ 100 mil e foi bancada por 111 doadores.

Com 19 anos de corporação, o cabo Wagner Santos Nunes, de 38 anos, diz que não se sente inseguro. “Conheço a comunidade, inclusive os meliantes e, quando eles estão pensando em fazer alguma coisa, eu estou na prevenção.”

Oficialmente, a jornada é de 40 horas semanais, mas, morando na base, ele acaba disponível o tempo todo. “Mas tenho muito mais qualidade de vida do que se trabalhasse no policiamento convencional”, conta o policial militar, que já passou pelo Batalhão de Choque da Capital.

Os moradores têm o telefone celular do PM e o acionam quando é necessário. Quem costuma bater na base para pedir ajuda são pessoas de fora, principalmente, motoristas que estão seguindo para o litoral e passam por dificuldade.

Lucas, de 12 anos, filho do PM, anda de bicicleta no quintal da base, ajuda a limpar o quintal, cuida dos cachorros Thor e Luana. Leva uma vida como de qualquer menino da sua idade. Mas conta que se sente muito orgulhoso. “Todo mundo lá na escola sabe que sou filho de polícia e moro na base”, diz o garoto, que quer seguir os passos do pai na profissão.

Moradores fazem patrulhamento 

Parece cena de filme. Munido de binóculos e do próprio carro que tem giroflex e adesivo, o agricultor Mitiru Nagao, de 46 anos, e cinco amigos fazem o patrulhamento do bairro Pindorama, em Mogi das Cruzes. Eles chamam o trabalho de serviço de vigilância comunitária e atuam integrados com a Polícia Militar.

O grupo não atende ocorrências nem persegue criminosos. A proposta é otimizar o tempo da PM. “Nós fazemos uma espécie de reciclagem para os policiais. Se tem acidente, vamos até o local e vemos se há ou não a necessidade de acionar viatura”, conta Nagao.

Como estão em uma área rural, também atuam como guias de viaturas do Samu, bombeiros e polícia quando estas vão atender ocorrências em locais de difícil acesso.

Nagao faz o patrulhamento na sua caminhonete ano 1999. O agricultor Jorge Fukuda, de 48 anos, usa o Santana ano 2000. Não existe uma programação para as patrulhas.

“Nós patrulhamos dependendo da demanda. Este mês, por exemplo, está tranquilo”, diz Fukuda. Mas, quando a região vivia onda de furtos de fios telefônicos, eles marcavam presença.

O trabalho existe desde 1999 e, desde então, os vigilantes voluntários acumulam histórias. Uma das mais inusitadas foi a procura por um rapaz que estava nu e perdido na mata. Junto com os PMs, eles trabalharam um dia inteiro até resgatar o moço.

Assim que o encontraram, Fukuda acionou o giroflex e saiu a toda velocidade pelas ruas guiando os policiais, que levavam o jovem ao hospital.