PM leva Frank Sinatra e Julio Iglesias à praça pública

Jornal da Tarde - Quinta-feira, 7 de julho de 2005

qui, 07/07/2005 - 9h48 | Do Portal do Governo

A Banda da Polícia Militar emociona idosos e jovens com clássicos musicais no coração do Bom Retiro

Gilberto Amendola

Ela escolhe a roupa mais bonita. Segue pelas ruas do Bom Retiro, na região central, apoiada em uma bengala. Vai tão devagarinho que parece despreocupada com o relógio. Mas não se enganem: Sofia Rabinovich, 77 anos, quer chegar logo. Não vê a hora de se sentar quietinha, fechar os olhos e ouvir os primeiros acordes de ‘My Way’, clássico de Frank Sinatra. ‘É o meu jeito de lembrar do meu falecido marido. A gente vinha aqui sempre. Nos amávamos muito’, confessa.

Todas as sextas-feiras, pontualmente às 17h, a Banda da Polícia Militar transforma a Praça Coronel Fernando Prestes no lugar ideal para uma volta ao passado. ‘A gente pensa que está em uma cidade do Interior. Mas estamos no Centro. Aqui, a gente encontra as amigas, joga conversa fora e lembra dos bom tempos’, conta Nataline dos Santos, 82 anos.

As apresentações já viraram uma tradição na praça. Elas acontecem em frente ao prédio do Comando Central da Polícia Militar de São Paulo. Quinze minutinhos antes do horário marcado, alguns policiais trazem cadeiras de plástico para acomodar o público. ‘É sempre uma emoção. O pessoal participa muito. Fica bonito de se ver’, disse o maestro e tenente Antônio Ferreira Menezes, 40 anos.

E Menezes tem razão. As mais idosas tratam os policiais/músicos como seus netinhos. ‘Já prometi trazer pão-de-mel para todos eles’, disse Maria de Lourdes, que insiste em dizer que tem 18 anos. ‘Isso aqui lembra Paris: o frio, a praça, esses saxofones. Eles são lindos, não é?’, pergunta Alexandrina Pacheco, 62 anos. Mas nem só de idosas é feito o público da banda da Polícia Militar. As mais jovens costumam ficar, estrategicamente, em pé. Estão sempre arrumadas, maquiadas e apaixonadas pelos oficiais. Só que o flerte não é descarado. ‘É uma coisa delicada. Eles são incríveis. Não quero ser atirada, mas venho sempre aqui ver ‘o cara da tuba”, contou uma espectadora que preferiu não se identificar – com razão, o ‘cara da tuba’ usa aliança.

Situações inusitadas acontecem sempre. No dia em que o JT lá esteve, um menino de 9 anos insistia em se intrometer no meio da banda. Parecia ser filho de algum componente. ‘Pode até ser. vai saber…’, brincou o flautista. Nada disso, Igor Elias queria apenas saber como é uma partitura. ‘Eu ainda vou aprender a tocar um instrumento’ afirmou.

Só que o que ninguém imaginava era ver a emoção de um morador de rua. O carregador de papelão, Antônio Gomes da Silva, 50 anos, chorou durante toda a apresentação. ‘Música é uma coisa que mexe comigo. Não tenho nada, só tenho meu sentimento’, dizia.

Julio Iglesias e Roberto Carlos selaram a comunhão da banda com o seu público. Canções como ‘Amada Amante’ e ‘Café da Manhã’ foram cantadas de forma comovente. No final, foi a vez do Hino Nacional e o hasteamento da bandeira. ‘Aqui a gente se realiza. Entra no túnel do tempo e celebra o bom da vida’, finalizou Pola Steinan, 70 anos.