PM afasta 4 após espancamento na Cracolândia

O Estado de S.Paulo - Quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

qui, 08/02/2007 - 10h56 | Do Portal do Governo

De O Estado de S.Paulo

Pelo menos cinco chutes, cinco socos, uma cotovelada e um tapa. Foi assim que policiais militares do 7º Batalhão da Polícia Militar Metropolitana foram flagrados revistando quatro homens e uma mulher na madrugada de ontem na Rua Guaianases, no centro de São Paulo, na região conhecida como Cracolândia, antigo ponto de consumo e tráfico de drogas. “Foi um ato covarde”, disse o secretário de Segurança Pública do Estado, Ronaldo Marzagão.

As imagens da violência usada pelos PMs foi feita por um cinegrafista amador e reproduzidas ontem pela TV Globo. Dos cinco suspeitos abordados pela polícia, os quatro rapazes sofreram agressões. Um inquérito foi instaurado pela corporação. O Estado apurou que, até ontem à noite, quatro policiais haviam sido identificados: o sargento Mário Henrique Batista de Carvalho e os soldados Márcio Maciel de Castro Lemos, Gilmar Carlos Rodrigues e Mário Moraes da Silva. A PM não confirmou os nomes.

As cenas da madrugada de ontem mostram as cinco pessoas suspeitas encostadas em uma parede, onde há um comércio. Todas estão com os braços para cima, também apoiados na parede, e as pernas afastadas. Um policial começa dando uma cotovelada em um dos revistados. Depois é dado um chute na perna de outro e assim segue uma seqüência de socos e mais chutes nos abordados. Um dos homens reclama, leva uma bronca e sofre outros ataques violentos. No final da abordagem, os policiais atearam fogo nas bolsas e mochilas.

Outras gravações com mais agressões, feitas em semanas anteriores na mesma região, também foram exibidas. Em uma, policiais usam uma espécie de martelo para agredir um grupo de pessoas, sentadas lado a lado, como se fossem presos em revista de penitenciária.

Ontem, a PM não soube confirmar o número de policiais e de viaturas que participaram da ação. Ao menos dois carros aparecem nas imagens, inclusive com seus números de identificação. Os quatro policiais reconhecidos depuseram na Corregedoria da PM e ficarão em prisão administrativa por cinco dias. Deverão ainda ser afastados das atividades de patrulhamento para fazer serviços internos e responder criminalmente pelos atos. Segundo Marzagão, outros dois policiais devem ser presos nos próximos dias. “Nem sempre há a possibilidade de fazer um acompanhamento concreto das ações de cada um dos policiais que trabalham na corporação, mas tudo que vier ao nosso conhecimento será apurado”, disse.

Uma vítima dos PMs também foi identificada pela corregedoria. Ela passou por exame de corpo de delito, falou à corporação e terá proteção do governo pela denúncia.

Por meio de nota, a PM afirmou “que não compactua com as atitudes desses policiais, absolutamente incompatíveis com os princípios preconizados pela instituição, a defesa da vida, da integridade física e da dignidade da pessoa humana”. E disse que a “apuração será rigorosa”. O Ministério Público do Estado designou o promotor Alexandre Mourão Tieri para investigar a denúncia, pois a princípio a violência usada pode ser caracterizada tortura.

Segundo o ouvidor da polícia, Antonio Funari Filho, episódios de violência policial na região central, em especial na Cracolândia, não costumam ser denunciados pelas vítimas. “Como não são ligados a movimentos sociais não sabem que têm o direito de denunciar”, explicou Funari. “Não temos tantos registros de ocorrências deste tipo na região, a não ser quando a imprensa flagra a violência.” Em 2006, foram registrados 139 denúncias de abuso de autoridade policial no Estado.