Pinacoteca também é lugar para pichação

Jornal da Tarde - Segunda-feira, dia 13 de novembro de 2006

seg, 13/11/2006 - 17h06 | Do Portal do Governo

Proposta da exposição “Pixo, logo existo!” é discutir, por meio das obras expostas, as ações dos pichadores como manifestação, e não problema

SAULO LUZ, saulo.luz@grupoestado.com.br

Quando o assunto é pichação, é muito fácil cair no senso comum. Para a maioria da sociedade, os pichadores não passam de vândalos ou até mesmo criminosos. Na tentativa de desmistificar essa visão e fazer um debate mais realista sobre o “problema” da pichação em São Paulo, diversos grafiteiros e pichadores de rua produziram várias obras que estão expostas no gradil externo da Pinacoteca do Estado, na Praça da Luz, Centro.

“Queremos discutir a pichação com a sociedade. Será que é sujeira mesmo? Isso é uma questão social. É um grito das classes marginalizadas que estão se expressando”, diz Celso Gitahy, de 38 anos, que se dedica à arte do grafite há mais de 20. Na opinião de Gitahy, tanto grafiteiros como pichadores encaram a atividade como uma forma artística de expressão. “Por isso, nossa intenção não é transformar o pichador em grafiteiro”, completa.

A exposição “Pixo, logo existo!” traz dez rostos de figuras diferentes e que tiveram participação importantes na História, como o filósofo Friedrich Nietzsche, o pintor e escultor Marcel Duchamp, o compositor Adoniran Barbosa e a escritora Clarice Lispector.

As obras, que medem 2,2 metros de altura, foram confeccionadas em recortes de madeira grafitados e com balões de pensamentos – como nos quadrinhos – sobre a pichação. “A idéia é retratar o que essas personalidades, se estivessem vivas, pensariam sobre a pichação na cidade de São Paulo”, diz Gitahy, que também é um dos expositores. Juntamente com o colega Taylor, da tribo GangBoy, ele produziu o rosto de Marcel Duchamp.

Sucesso

A exposição também contou com o apoio do designer Fernando Zelman e do artista plástico Danilo Blanco, coordenador do espaço Galeria Central, onde as obras foram produzidas. “Recebemos uma proposta de sediar uma exposição de grafite de alguns garotos, e foi tanto sucesso, que agora eles estão na Pinacoteca”, diz Blanco, que desenvolve oficinas de artes plásticas como forma de geração de renda para jovens. “No começo, fiquei chocado e assustado com a linguagem deles, pois, na minha concepção, continha muito ruído. Agora estou muito interessado nas intervenções que eles fazem na rua”, completa.

No total, 20 artistas – entre pichadores e grafiteiros – criaram as obras que estão expostas desde o dia 21 de outubro e, segundo a Pinacoteca, poderão ser vistas ainda até o próximo dia 26 de novembro.