Pinacoteca chega à Avenida Paulista

O Estado de S. Paulo - Segunda-feira, 15 de Agosto de 2005

seg, 15/08/2005 - 13h28 | Do Portal do Governo

A história do centenário do museu e a formação de seu acervo é apresentada em mostra na Galeria de Arte do Sesi

Camila Molina

No começo, em 1905, a Pinacoteca do Estado, inaugurada no prédio projetado no século 19 por Ramos de Azevedo para funcionar o Liceu de Artes e Ofícios, foi pensada para ser uma pinacoteca no termo da palavra mesmo: um museu de pintura. Quando ela foi criada, um século atrás, o único museu existente em São Paulo era o Paulista – ou do Ipiranga, como é conhecido -, cujo o acervo era tão eclético que possibilitou a criação de tantos outros museus. Dentre eles, a Pinacoteca, que recebeu como pontapé inicial de seu acervo um conjunto de 26 quadros.

Essa é só a primeira história sobre a formação de uma coleção que hoje reúne em torno de 6 mil obra s. Como se não bastasse a Pinacoteca do Estado ser um dos museu mais ativos – ou talvez o mais ativo – de São Paulo (usando tanto o prédio na Praça da Luz quanto o edifício no Largo General Osório, onde funciona há mais de um ano a Estação Pinacoteca, seu segundo espaço expositivo), ela também estará a partir de hoje na Avenida Paulista, na Galeria de Arte do Sesi, onde será inaugurada a mostra 100 Anos da Pinacoteca: A Formação de um Acervo. A exposição, com curadoria do diretor do museu, Marcelo Araújo, apresenta cerca de 200 obras da coleção da instituição.

Há de tudo, do século 19, passando pelos modernos até chegar ao contemporâneo. E há pinturas, esculturas e gravuras – já há muito tempo a Pinacoteca deixou de ser somente o que diria o seu nome: um local para expor pinturas. Já antes de entrar na Galeria de Arte do Sesi, na rua mesmo os visitantes – e qualquer transeunte – encontrarão três esculturas – de Amilcar de Castro, Victor Brecheret e Marcelo Nitsche – duas delas transportadas do Jardim de Esculturas do museu, no Parque da Luz.

PÚBLICO/PRIVADO

Como diz Marcelo Araújo, o acervo da Pinacoteca, unidade da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, foi formado pela articulação de ações públicas e privadas – famílias doaram coleções inteiras, artistas ainda doam suas obras, assim por diante. As diferentes maneiras de aquisições ficam divididas na exposição, com cenografia do arquiteto Haron Cohen.

Na entrada da mostra estão 6 das 26 obras recebidas do Museu Paulista. Estavam nessa primeira remessa quadros feitos por Almeida Júnior e Pedro Alexandrino e alguns outros que anunciavam um primeiro perfil do museu: abrigar obras de artistas já consagrados do século 19, brasileiros, ou estrangeiros que estiveram por aqui – abrigar um tipo de pintura reconhecida na época. Só em 1911 ocorreu a primeira regulamentação jurídica e mais 33 obras foram incorporadas – dentre elas a Maternidade, de Visconti.

No ano seguinte, 1912, o governo do Estado instituiu um programa de pensionato artístico para que artistas fizessem viagens pelo exterior. Na volta, eles doariam obras para o museu. Na mostra há uma escultura doada por Leopoldo Silva e, ao lado, um caso curioso, o de Anita Malfatti. Entre 1925 e 1928 ela ficou na Europa por conta do pensionato e na volta doou dois quadros: um deles, uma cópia de obra de Millet – era um costume acadêmico fazer cópias – e ainda uma de suas obras originais e modernista, Tropical, de 1917. Anita optou por doar não uma obra que nasceu de sua experiência no pensionato, mas algo que ela trilhava em suas pesquisas anos antes da doação – era pelo estilo de Tropical que queria ser lembrada. O programa durou até 1931.

Até a formação de um conselho consultivo de especialistas para o museu, só em 1970, a Pinacoteca foi incrementando sua coleção por meios diversos. Algumas obras foram transferidas de órgãos do governo – O Violeiro, de Almeida Júnior, chegou só na década de 30 – e, por isso, de algumas nem se sabe a origem; outras compradas – das mais emblemáticas, São Paulo (1924), de Tarsila, Bananal (1927), de Lasar Segall, e Mestiço (1934), de Portinari, comprado em 1935 por indicação do escritor Mário de Andrade.

A partir da década de 70, com o conselho da Pinacoteca, a idéia foi a de preencher lacunas. Entraram obras de Flávio de Carvalho, Ernesto de Fiori, um núcleo concreto (Lygia Clark, Waldemar Cordeiro, Sacilotto), o porco empalhado de Nelson Leirner e muitas obras contemporâneas – ‘mas um contemporâneo consistente, não trabalhamos com a produção emergente’, diz Araújo. Mas ele afirma que ainda há buracos. ‘Não há Ismael Nery no acervo nem nada significativo de Guignard’, afirma. Um vídeo também foi preparado para contar a história dos 100 anos do museu.