Pílula do dia seguinte usada sem orientação por 76% das jovens em São Paulo

Diário de S. Paulo

ter, 16/06/2009 - 8h34 | Do Portal do Governo

O grande número de adolescentes que compram a pílula do dia seguinte sem receita tem preocupado médicos e pais. A cada dez jovens que vão à farmácia atrás do método anticoncepcional de emergência, pelo menos sete (76,7%) não têm orientação de um ginecologista, segundo pesquisa da Secretaria de Estado da Saúde. A prática traz dois riscos à saúde: a concentração de hormônios no medicamento pode gerar efeitos colaterais e a mulher não se protege contra doenças sexualmente transmissíveis (DSTs).

A pílula, além disso, é incapaz de evitar a gravidez em 15% dos casos, mesmo quando ingerida dentro das recomendações. A taxa de eficácia do método cai à medida em que seu uso se torna frequente, de acordo com especialistas. A estudante de pedagogia Flávia Oliveira Figueiró, de 18 anos, sentiu isso na pele. Após quase dois anos consumindo a pílula de duas a três vezes por semana, engravidou.

– Você pensa que nunca vai acontecer com você, e vai se enganando – diz a jovem, que foi ao ginecologista pela primeira vez quando descobriu a gravidez.

Luciane, de 17 anos, também não teve a orientação de um médico quando comprou a primeira caixa da pílula, dois anos atrás.

– Conhecia (o método) porque tinha ouvido falar na escola. Fiquei com medo na primeira vez em que tomei. Estava na praia e não tinha usado camisinha – conta.

Flávia e Luciane frequentam o atendimento médico da Casa do Adolescente de Pinheiros, na Zona Oeste da capital. A pesquisa sobre a pílula, inclusive, é resultado de entrevistas feitas com 178 garotas com idades entre 14 e 18 anos que frequentam o local.

Os resultados indicaram aos médicos que 95% das garotas já ouviram falar sobre o método e que 35,8% das entrevistadas usaram a pílula do dia seguinte. Dessas, 76,7% são justamente aquelas que não recebem nenhuma orientação antes do uso. Os números mostram que as jovens perderam a virgindade, em média, aos 15 anos.

– Como cada vez a sexualidade está mais precoce, temos feito grupos para discutir o tema na Casa do Adolescente – diz a ginecologista Albertina Duarte Takiuti, coordenadora do Programa de Saúde do Adolescente do estado.

Na última reunião, participaram cerca de 15 meninas. Enquanto falavam sobre os métodos anticoncepcionais, as ginecologistas pediam a participação das adolescentes. “Tomei a pílula muito tempo depois da relação e não funcionou”, contou a estudante Mariane, de 18 anos. “Não quis tomar porque fiquei com medo. Hoje, vejo que é normal e que podia ter evitado a gravidez. Claro que a criança será bem-vinda, mas podia ser diferente”, diz Cátia Barbosa, de 19 anos, grávida de quatro meses.

Uso descontrolado causa vômitos e dores

Dores de cabeça, náusea, sangramentos, vômitos e irregularidade no ciclo menstrual são algumas das reações adversas que o uso descontrolado da pílula do dia seguinte pode trazer. Mas nada é tão preocupante quanto o fato do método não prevenir a Aids e outras doenças sexualmente transmissíveis.

– A adolescente, em geral, está preocupada com a gravidez e esquece das DSTs – diz a ginecologista Albertina Duarte Takiuti. Ela lembra que o mais importante é que a jovem procure um médico quando iniciar sua vida sexual para se informar sobre os métodos contraceptivos.

Especialistas recomendam que a jovem tome os anticoncepcionais regularmente e que use a camisinha (masculina ou feminina) sempre que manter uma relação sexual. A pílula do dia seguinte deve ficar reservada a um caso excepcional, como a interrupção do tratamento com o anticoncepcional ou o rompimento do preservativo de látex.

O método de emergência despeja no corpo uma carga hormonal equivalente a uma caixa inteira de anticoncepcionais.

– Dependendo do momento em que a mulher toma a pílula, ela pode parar a ovulação, dificultar o transporte do óvulo pelas trompas ou tornar o muco vaginal mais nocivo à entrada do espermatozóide – explica a ginecologista Luciana Crema, professora da Unifesp.

A taxa grande de hormônios é necessária para o corpo não fornecer as condições para a gestação.

– O ideal é que a mulher só compre a pílula após se orientar com o médico, pois assim estará ciente dos efeitos que ela pode causar – diz Luciana.

Ela lembra que a chance de evitar a gravidez é maior se a pílula for tomada antes das 72h recomendadas.