Pesquisadores de Campinas descobrem café sem cafeína

O Estado de S. Paulo - Quinta-feira, 24 de junho de 2004

qui, 24/06/2004 - 9h38 | Do Portal do Governo

Plantas trazidas da Etiópia têm uma mutação que as torna naturalmente descafeinadas

HERTON ESCOBAR

Cientistas brasileiros podem ter encontrado a fórmula secreta para um cafezinho saboroso e sem cafeína, naturalmente. A receita está escrita nos genes de três plantas trazidas da Etiópia para o Instituto Agronômico de Campinas (IAC), ainda na década de 60, por uma expedição da Fundação das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). Todas são da espécie Coffea arabica, o café mais cultivado no mundo, só que naturalmente descafeinadas.

Enquanto o café arábico tradicional tem cerca de 1% de cafeína, as novas plantas possuem praticamente zero, ou 0,06%. A diferença deve-se provavelmente a uma mutação do gene que controla a síntese da cafeína. Mais especificamente, a transformação da molécula precursora, a teobromina, em cafeína. ‘De alguma maneira, o processo não ocorre’, diz o cientista Paulo Mazzafera, que iniciou a pesquisa no IAC e agora está na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O trabalho, publicado hoje na revista Nature, é assinado também por Maria Silvarolla e Luiz Fazuoli, do IAC.

A meta agora é identificar a característica genética responsável pela falta de cafeína e tentar transferi-la para variedades comerciais de café arábico, por meio de cruzamentos. Todo o café descafeinado disponível hoje no mercado é resultado de processos industriais, que, com a cafeína, acabam eliminando também parte do sabor e do aroma tradicionais. Por isso, a necessidade de encontrar um grão que seja descafeinado desde a semente.

As variedades fazem parte de um grupo de cerca de 600 plantas de café trazidas da Etiópia em 1965 e preservadas até hoje pelo IAC. ‘Não sabemos se essas plantas ainda existem na Etiópia’, alerta Mazzafera. ‘O que só reforça a necessidade de manter e caracterizar bancos de germoplasma (material genético vegetal) no Brasil.’