Pesquisa sintetiza feromônio do minador dos citros

O Estado de S.Paulo - Quarta-feira, 8 de Junho de 2005

qua, 08/06/2005 - 10h49 | Do Portal do Governo

Próximo passo é produzir uma tecnologia para o controle biológico da praga

Gustavo Porto

Um grupo de pesquisadores do Brasil, Estados Unidos e Japão, liderados pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), conseguiu o feito inédito de produzir sinteticamente o feromônio (hormônio sexual) do minador dos citros (Phyllocnistis citrella), inseto considerado uma das maiores pragas da citricultura. Os dados do estudo serão apresentados na sexta-feira, no encerramento da Semana da Citricultura, principal evento do setor no País, em Cordeirópolis (SP).

A descoberta abre caminho para a produção de armadilhas que possam capturar e controlar a população do inseto nos pomares brasileiros. O feromônio é uma substância química que o inseto libera para atrair o sexo oposto antes de se reproduzir. Foram cinco anos de pesquisas para produzi-lo de forma sintética.

A doutoranda Ana Lia Parra Pedrazzoli, a ‘mãe’ da descoberta, teve de avaliar o comportamento sexual do inseto. ‘Descobrimos que a fêmea libera o feromônio e que os insetos têm um ritual sistemático para a relação sexual. Os insetos copulavam num período entre uma hora antes e uma hora depois do nascer do sol e demoravam entre 35 e 90 minutos.’

Para obter os dados foi preciso um trabalho de observação que incluiu uma sessão contínua, durante 24 horas, com avaliações a cada 20 minutos. ‘Para não interferir no comportamento dos insetos utilizamos uma luz vermelha, cor que não é detectada pelo minador’, explicou. Durante um ano, ela recolheu uma a uma as glândulas produtoras do feromônio de 5 mil fêmeas virgens do minador dos citros, sacrificando os insetos.

Para produzir a substância de forma sintética, as glândulas foram misturadas em solvente, que absorveu o odor, justamente o que importava para a pesquisa. Amostras do solvente foram pesquisadas pela própria Ana Lia, na Universidade da Califórnia (EUA), onde está o seu orientado Walter Soares Leal. ‘Outras amostras foram avaliadas no Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) e na Fuji Flavor, no Japão. Por meio de processos químicos, foi obtida a substância sintética com o feromônio’, explicou a pesquisadora.

Os primeiros resultados obtidos com armadilhas contendo a substância já testadas em campo foram animadores. ‘Cada armadilha capturou até 65 machos do minador, enquanto uma fêmea, colocada em uma gaiola, conseguiu atrair 2 ou 3, apenas.’ Agora, a pesquisadora ampliará os testes com as armadilhas – ‘calibrando-as’ em relação ao tamanho, altura do solo e cor para facilitar a identificação do inseto – antes de elas serem disponibilizadas para serem produzidas comercialmente.

Além da divulgação da síntese do feromônio do minador, a semana da citricultura terá um debate sobre fitossanidade (hoje) e o simpósio sobre avanços no manejo da fertilidade do solo. Amanhã, o tema do debate será economia citrícola. Também será lançado o livro Estratégias para a laranja no Brasil, elaborado por Marcos Fava Neves e Frederico Lopes, do Pensa/USP.