Pesquisa da Medicina USP ajuda a reabilitar crianças com dislexia

Gazeta do Litoral/Praia Grande

ter, 12/05/2009 - 10h52 | Do Portal do Governo

Através da hipótese de que os transtornos de leitura podem ser causados por alteração no processamento temporal auditivo (PTA), foi desenvolvido um programa de treinamento computadorizado para o tratamento de problemas de percepção auditiva.

A pesquisa, realizada na Faculdade de Medicina da USP tem o objetivo de reabilitar crianças com dislexia, tipo de transtorno de aprendizagem caracterizado pela dificuldade para ler e escrever. Com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa de SP (Fapesp), a fonoaudióloga Cristina Ferraz Murphy fez seu próprio trabalho se tornar o foco de seu doutorado.

Com a adaptação do software americano Fast Forword, ela desenvolveu dois jogos de computador, com estímulos não verbais e verbais, empregados no treinamento auditivo das crianças. O objetivo do jogo não verbal é estimular a percepção e a diferenciação de sons agudos e graves, pela apresentação de parâmetros acústicos semelhantes aos fonemas do português falado no Brasil, enquanto o jogo verbal promove os estímulos de fala por meio da diferenciação de sílabas com sons parecidos.

O paciente torna-se capaz de discriminar, por exemplo, consoantes iniciais como ‘ta’ ou ‘da’. Essa expansão do som diminui conforme a melhora do seu desempenho, até que seja ouvido o tempo de produção normal da sílaba. Já no jogo não verbal, a criança aprende a discriminar os sons com o auxílio de imagens e tons musicais análogos ao som da fala e em diferentes frequências e tempos de duração.

O software foi desenvolvido em três etapas: criação dos desenhos e animações, gravação dos sons e criação do programa. A pesquisadora realizou dois estudos com crianças entre 7 e 14 anos. Elas foram comparadas antes e depois da utilização dos jogos e tiveram avaliação do desempenho em testes de leitura, consciência fonológica e PTA. 

O resultado do estudo constatou cerca de 25% de aumento no número de acertos nos jogos para o grupo experimental, contra cerca de 3% para o grupo controle nas mesmas provas. No segundo estudo, ela observou melhora no grupo experimental. Houve 25% de aumento do número de acertos após o treino, contra 5% no período anterior ao treinamento. Com isso, a pesquisadora verificou melhorias em relação ao desempenho em habilidades de leitura de texto, de consciência fonológica e de PTA.

A fonoaudióloga constatou também que os dois jogos foram eficazes ao treinamento temporal auditivo do grupo, mas que nem todas as crianças melhoraram nas habilidades de leitura, o que leva a uma nova etapa da pesquisa.

A pesquisa concorreu ao prêmio anual da Academia Americana de Audiologia, no início de abril, em Dallas, nos Estados Unidos, juntamente com dezenas de trabalhos do mundo inteiro. Os jogos da pesquisadora estão sendo patenteados para oferecê-los a pacientes com dislexia e já são utilizados nos serviços de saúde vinculados à universidade.