Pesquisa coloca cerveja na era da embalagem PET

Correio Popular - Domingo, dia 30 de julho de 2006

dom, 30/07/2006 - 11h22 | Do Portal do Governo

Além de ser mais barata, novidade desenvolvida pela Unicamp não altera o gosto da bebida

Raquel Lima

DA AGÊNCIA ANHANGÜERA

rlima@rac.com.br

A tradicional garrafa de vidro de cerveja encontrada em dez entre dez restaurantes, bares e botecos do País, em breve, vai ganhar uma versão alternativa. Além das latinhas de alumínio, o consumidor poderá encontrar a “loira gelada” em embalagem de plástico PET. A novidade foi desenvolvida pela Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Universidade Estadual de Campinas. O pesquisador Carlos Alberto Rodrigues Anjos desenvolveu e adaptou para as condições em que são produzidas as cervejas nacionais e garante: além se ser mais barato que as garrafas de vidro, o PET não altera o sabor da bebida.

No entanto, uma liminar, concedida em 2003 pela Justiça Federal de Marília, válida em todo território nacional, determinou ao Ministério da Agricultura que condicione o registro da cerveja embalada em PET ou em qualquer outra espécie de plástico à licença expedida pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama). Ou seja, as empresas devem apresentar um Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e Relatório de Impacto Ambiental (Rima) para evitar danos ao meio ambiente em razão da utilização de embalagens plásticas para cerveja.

A nova embalagem desenvolvida pelo pesquisador é resultado da mistura de polietileno tereftalato — o PET — e náilon, que é resistente ao calor, retarda a perda de gás carbônico e a entrada de oxigênio, e que pode ser pigmentado para evitar a ação das radiações, o que é fundamental em bebidas fermentadas.

A garrafa PET, que traz uma tampa com rosca, tem capacidade para meio litro, ganhou um novo desenho para não deformar no aquecimento, é mais espessa e proporcionalmente mais pesada que a de vidro.

“Dentro do prazo de validade (três meses contra seis meses do produto engarrafado), a embalagem PET apresenta características muito próximas da embalagem de vidro”, disse Rodrigues Anjos, pesquisador da área de embalagens do Departamento de Tecnologia de Alimentos da FEA da Unicamp, e especialista e consultor em tecnologia e embalagem de PET para alimentos, bebidas, produtos farmacêuticos, químicos, cosméticos, higiene e limpeza.

A pesquisa teve início em 1998, mas o pesquisador da Unicamp explica que o projeto não andava “porque as cervejarias queriam usar o mesmo mecanismo utilizado em garrafas de vidro, latas ou embalagens long neck”. A produção da cerveja passa por vários estágios. Após a fabricação, o produto deve maturar entre 13 a 15 dias. Maturada, a cerveja vai para a embalagem especificada e é imediatamente encaminhada para pasteurização.

A pasteurização consiste na passagem das embalagens contendo a cerveja por um túnel de 40 a 50 metros por tempo pré-determinado e temperatura controlada para cada tipo de embalagem, pois a transmissão de calor ocorre diferentemente no vidro, no alumínio e no plástico. Tais condições são fundamentais para determinar a qualidade sensorial final e a estabilidade da cerveja.

“No Brasil, interessa às cervejarias a pasteurização no mesmo túnel que utilizam para lata e vidro, e, por isso, a embalagem de plástico deve resistir às deformações que a temperatura possa provocar. O desafio foi achar o que somar ao PET, e em que proporção, para chegar a um produto que resistisse às condições de pasteurização, um desenho que garantisse mais solidez para a embalagem e um sistema eficiente de fechamento. Tivemos sucesso depois de muitos testes e redesenhos”, declarou Rodrigues Anjos. “Na Europa, em razão de fatores climáticos, das distâncias e das condições de transporte, a cerveja é embalada assepticamente a frio ou filtrada em membranas para proporcionar o uso do PET, o que no Brasil se tornaria tremendamente custoso e tecnicamente difícil de controlar”, completou.

“A embalagem é prática, higiênica, com uma tampa que protege o gargalo e bom isolante térmico, mantendo a temperatura por maior tempo”, assegura Rodrigues Anjos. O pesquisador lembra que as garrafas PET apresentam custo compatível e viável, contando com equipamentos nacionais para sua produção.

O novo produto foi testado nas instalações da cervejaria Frevo, no Recife (PE). “No Nordeste, há muita necessidade de produtos mais baratos e seguros em razão dos diversos eventos, como Carnaval e festas de São João”, explicou o pesquisador da Unicamp. Ele, no entanto, vê a PET como mais uma opção de embalagem, “pois o vidro e o alumínio deverão manter seus segmentos”. Algumas empresas já comercializam chope em embalagem PET.

Cervejeiro faz degustação e aprova sabor

A Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp explica que não há alterações no sabor de bebidas alcóolicas, como uísque, vodca, aguardente e principalmente vinho quando acondicionados em embalagens de plástico. De acordo com a Unicamp, essa alteração não ocorre com o polímero PET porque ele é isento de aditivos e materiais que não se polimerizam. As possíveis alterações, principalmente de sabor, em produtos acondicionados em PET pode ocorrer devido ao plástico da tampa e à presença do composto acetaldeído gerado na polimerização da resina e durante a injeção das pré-formas. Este composto está presente nas paredes da embalagem e difunde, com o passar do tempo, para os produtos. Mas a Unicamp ressalta que no caso de bebidas alcoólicas é desprezível. “O PET, de fato, não altera em nada o paladar da cerveja”, disse o alemão Herbet Peter Cegielkowkfi, mestre cervejeiro há 38 anos e que fez as degustações para a empresa Frevo.

As vantagens do material

Podem ser produzidas na própria linha de enchimento dos vasilhames, sem a necessidade de se estocar embalagens compradas de empresas especializadas.

Têm elevada resistência mecânica, o que gera economia no enchimento, transporte e empilhamento.

O material é reconhecidamente inerte, importante na preservação física da embalagem, principalmente em grandes eventos e aglomerações.

Já são utilizadas no mundo para embalagem de bebidas alcoólicas, com aprovação dos organismos internacionais.

São fáceis de serem transportadas e de comportar volumes maiores que as latinhas de alumínio.

O material apresenta índices de reciclagem crescente (aproximadamente 48% em 2005).

Há facilidade de uso também pelas cervejarias regionais menores, que hoje são mais de cem no Brasil.