Pesquisa científica ajuda no combate ao tráfico

Jornal da Tarde - 6/6/2002

qui, 06/06/2002 - 10h02 | Do Portal do Governo

Uma pesquisa, que vem sendo realizada pelo Instituto de Criminalística (IC), vai ajudar a polícia a identificar a rota das principais quadrilhas de tráfico de drogas que agem no Estado.

‘Faz dois anos que estudamos o grau de pureza dos entorpecentes apreendidos.

Como cada quadrilha costuma ter uma fórmula própria para misturar a droga com outras substâncias químicas, conseguimos identificar diversas quadrilhas e a área onde elas atuam’, revela Oswaldo Negrini Neto, diretor dos laboratórios do IC.

‘Em casos como o da maconha’, garante Negrini, ‘é possível localizar até a região onde a droga foi plantada.’

Para desenvolver o projeto que desvenda a composição dos entorpecentes, o IC adquiriu 10 novos cromatógrafos (que identificam a presença e a quantidade de droga contida em qualquer material).

‘O aparelho é importado do Canadá e custa em média US$ 60 mil’, conta Negrini. Segundo ele, quatro cromatografos permanecerão no laboratório central do IC (sendo que um deles está calibrado para identificar a composição química de explosivos), enquanto os seis restantes vão equipar as delegacias que mais enfrentam problemas com o tráfico na Grande São Paulo.

‘As máquinas mais modernas tornaram nosso trabalho mais ágil. Com elas, somos capazes de verificar no ato se uma substância contém elementos entorpecentes, o que facilita a prisão em flagrante. O grau de pureza de uma droga, por sua vez, é obtido em menos de 25 minutos’, destaca Celso Perioli, coordenador da superintendência da Polícia Técnico-Científica.

Com os aparelhos antigos do IC, o estudo dos elementos que compõem a droga chegava a durar até duas horas.

Parte das pesquisas também são realizadas no Ipen (Instituto de Pesquisa Energética e Nuclear), órgão conveniado ao IC, que conta ainda com o apoio da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).

Segundo o diretor Negrini, o IC analisa cerca de 1 tonelada de amostras de drogas apreendidas por mês. ‘Os produtos que mais chegam ainda são a maconha, o crack e a cocaína, embora o ecstasy já represente 3% das apreensões.’

O estudo de pureza realizado pelo IC também revelou que 83% do entorpecente que chega ao viciado é adulterado. ‘No caso da cocaína, por exemplo, chegamos a encontrar amostras com menos de 10% de cocaína pura. Os traficantes fazem isso para manter o preço da droga acessível, pois o quilo da cocaína é cotado junto com o quilo do ouro. A maconha, é normalmente misturada com adubo orgânico, mas para disfarçar o forte cheiro da erva’, conta o diretor dos laboratórios do IC.

A porcentagem mais comum das amostras de cocaína examinadas pela toxicologia do instituto contém a seguinte fórmula: 50% de cocaína, 35% de lidocaina (anestésico conhecido popularmente como xilocaina) e 15% de cafeina (estimulante). ‘A lidocaina e a cafeina equilibram o efeito da cocaína. O problema é quando encontramos elementos nocívos à saúde, sais insolúveis que não são digeridos e provocam lesões no organismo’, ressalta Negrini.

Luiz Guedes Jr.