Percepções da cidade e traços sobre o Brasil

O Estado de São Paulo - Sábado, dia 24 de junho de 2006

sáb, 24/06/2006 - 11h09 | Do Portal do Governo

Estação Pinacoteca abre mostras do gravador Marco Buti, que lança livro, e do ilustrador Lan



Camila Molina


Uma mobilidade constante. Cidades vistas, cidades vividas, a relação com o urbano sempre esteve presente na produção do artista Marco Buti, um dos importantes nomes de nossa gravura contemporânea. “Ir, passar, ficar. Os deslocamentos do dia-a-dia ou mesmo os deslocamentos dentro de casa sempre fazem alguma coisa se transformar em imagem”, diz Buti, que inaugura hoje, às 11 horas, exposição na Estação Pinacoteca com mais de uma centena de obras. Na ocasião também será lançado o livro Ir até aqui (Cosac Naify/Pinacoteca do Estado), organizado pelo poeta e gravador Alberto Martins. Tanto a mostra quanto a edição se debruçam sobre mais de 15 anos de trajetória de Marco Buti.


Falar de uma mobilidade constante não se refere somente ao tema do urbano na poética do artista – o olhar para cima, para baixo, tão próprio da cidade – mas também à inclusão da fotografia, desde 1992, em seu trabalho. “Há gravuras que saem de fotos, há gravações a partir de fotos, há sempre migrações entre os dois meios e nenhuma hierarquia”, afirma.


Nas gravuras, sempre em metal, o olhar de “passante” pelas cidades se revela por meio de composições formais, em muitas, composições com linhas – e numa das séries, em preto-e-branco, Buti representou até mesmo o que seriam as projeções de luz nos espaços interiores de sua casa. Nas fotografias, o formal também está lá, mas como a foto é sempre um registro a partir do real, percebemos, sim, os dados dos lugares (diversos do mundo), mas não é isso que está em jogo. É curioso como nas obras de Buti o importante não é estabelecer se sua poética é figurativa ou abstrata. “Não trabalho com a fronteira entre figurativo e abstrato, tudo parte do que é visto. Sombra e luz, a todo momento e lugar, é o que sempre constroem os desenhos”, diz Buti. Na mostra e no livro (concebido como uma espécie de diário dos encontros entre Alberto Martins e o artista e com textos de Buti, Priscila Sachettin e Antonio Gonçalves Filho), cabe ao espectador/leitor também ir se movimentando, estabelecer as relações entre os trabalhos e a cidade lá fora (ela pode ser vista pelas janelas do museu).


Ao mesmo tempo, na sala ao lado, será inaugurada mostra com uma seleção de 120 charges e caricaturas de Lan, publicadas em jornais e pertencentes à coleção do bibliófilo José Mindlin. A exposição, com curadoria de Ana Luiza Martins e Sérgio Pizoli, percorre período entre a década de 1960 e 1992 – estão lá representados com ironia e humor muitos do momentos históricos do Brasil e do exterior.





(SERVIÇO)Marco Buti e Lan. Estação Pinacoteca. Largo. General Osório, 66, Luz, 3337-0185. 3.ª a dom., 10 h às 18 h. R$ 4 (sáb. grátis). Até 27/8