Pequenos dão força à Agrishow

O Estado de S. Paulo - Suplemento Agrícola - Quarta-feira, 25 de maio de 2005

qua, 25/05/2005 - 11h23 | Do Portal do Governo

Produtores familiares compraram mais tecnologia na grande feira dinâmica de máquinas e implementos

Niza Souza

A Agrishow Ribeirão Preto encerrou-se no sábado, cumprindo as expectativas de retração já verificadas na Agrishow Comigo, em Rio Verde (GO), e na Agrishow Cerrado, em Rondonópolis (MT). O setor de grãos passa pela crise da quebra de safra e baixa do dólar, o que descapitaliza o produtor e também desestimula as exportações. O resultado foi que a mostra do interior paulista fechou com R$ 760 milhões em negócios, ou R$ 758 milhões a menos do que o faturamento no ano passado, que foi de R$ 1,285 bilhão.

Descapitalizada, a maioria dos produtores adiou as compras este ano. Mas, se a Agrishow Ribeirão Preto é um termômetro do setor, então, no que diz respeito aos pequenos agricultores, a mostra registrou uma situação melhor. Ficou claro, por exemplo, que os pequenos produtores estão cada vez mais interessados em modernizar suas propriedades e se tecnificar e que, ao contrário do que muitos pensam, vão à feira para comprar, não só para olhar.

A procura por uma das novas linhas de crédito do Fundo de Expansão do Agronegócio Paulista (Feap) foi um exemplo da disposição dos pequenos em investir. As duas novas linhas de crédito do Feap lançadas, durante a Agrishow Ribeirão, pelo governo paulista – para compra de implementos novos e de máquinas com até cinco anos de uso e para a produção de café de qualidade – esgotaram seus recursos logo no primeiro dia. Inicialmente, foram destinados recursos de R$ 5 milhões para ambas as linhas, voltadas para produtores com renda bruta anual de até R$ 185 mil, que podiam financiar até R$ 60 mil, com juros de apenas 4% ao ano.

‘Esperávamos por uma grande procura, mas foi uma surpresa os recursos acabarem tão rápido’, disse o gerente da Divisão do Agronegócio da Nossa Caixa – o banco gestor do Feap -, Roberto Moretti. O sucesso foi tão grande que, no dia do lançamento oficial da nova linha, na quinta-feira, ou seja, no quarto dia da Agrishow Ribeirão Preto, o governador Geraldo Alckmin foi à mostra e ampliou os recursos para R$ 15 milhões. Que também não foram suficientes. ‘As propostas protocoladas até o terceiro dia já alcançavam este valor’, disse o gerente.

TECNOLOGIA

Os R$ 15 milhões podem não ser tão expressivos diante dos R$ 760 milhões negociados durante o evento, mas mostram que o pequeno está disposto a investir em tecnologia. Basta ter oportunidade. ‘Essa nova linha, com juros de 4% ao ano, deu um novo fôlego para os pequenos’, acredita Moretti.

‘É um nicho que se mostrou interessante e merece atenção por parte da indústria de máquinas e implementos’, acredita o diretor de Vendas da Massey Ferguson, Carlito Eckert. Segundo ele, o movimento de vendas de máquinas de pequeno porte – tratores de até 75 hp, normalmente direcionados para pequenas propriedades – foi significativo durante a mostra em Ribeirão. ‘Se comparado ao ano passado, foi três vezes maior este ano’, diz Eckert, que não quis revelar números específicos. ‘Percebemos que a maioria desses compradores veio à feira a convite de entidades como o Senar e Sebrae e, com uma linha atrativa como o Feap, transformaram-se em compradores potenciais.’

Para Eckert, há dois lados positivos nessa tendência. ‘O acesso do pequeno produtor à tecnificação e a descoberta, para nós, de um novo nicho de mercado. A verdadeira reforma agrária pode ser isso: dar oportunidade para o pequeno produtor ou o produtor familiar se manterem no campo.’

O presidente do sistema Agrishow, Sérgio Magalhães, acrescenta que durante muito tempo o pequeno produtor resistiu à chegada de novas tecnologias. ‘Nas primeiras edições deste evento, eram poucos os pequenos que visitavam e menos ainda os que compravam’, diz. Em 1999, depois de consolidar a Agrishow como uma das maiores mostras tecnológicas da área agrícola da América Latina, Magalhães decidiu abrir mais espaço para esse público. ‘Começamos a organizar grupos e a trazê-los. Notamos que, na primeira vez, eles observam tudo, meio desconfiados. Na segunda visita, já começam a pesquisar preços. E, na terceira, vêm e compram. O pequeno agricultor percebeu que é importante investir para aumentar a produtividade e melhorar a renda.’

RECORDE

Em parceria com a organização do evento, o sistema Faesp/Senar, o Banco do Brasil e outras entidades levaram quase 10 mil pessoas a mais a Ribeirão do que no ano passado. ‘Ao todo, recebemos cerca de 26 mil pequenos produtores este ano’, diz Magalhães. ‘É um recorde.’ No ano passado, foram 17 mil. Além de ter contato com novas tecnologias, observa Magalhães, muitos foram com o objetivo de comprar. ‘É um reflexo do trabalho que estamos fazendo nos últimos anos.’ Atualmente, Magalhães diz que pede – ‘É quase uma exigência’ – para que todos os expositores mostrem equipamentos de menor porte, para atender aos pequenos agricultores.

Para Magalhães, essa movimentação do setor é um reflexo desse trabalho, de proporcionar ao pequeno produtor acesso à informação, à tecnologia. ‘Estou percebendo que nosso trabalho está resultando em vendas, apesar de não ser este o nosso principal objetivo, que é mostrar tecnologia, ou seja, como deixar a propriedade mais produtiva, como diminuir perdas, baixar custos e ganhar mais. Investindo em tecnologia e tendo oportunidade, o pequeno de hoje será o grande de amanhã’, completa Magalhães.