Pela primeira vez, SP faz eleição para decidir currículo

O Estado de S. Paulo - São Paulo - Terça-feira, 18 de janeiro de 2005

ter, 18/01/2005 - 9h27 | Do Portal do Governo

Diretores das 5.400 escolas estaduais vão votar; decisão da maioria valerá para todas

RENATA CAFARDO
SIMONE IWASSO

Todas as 5.400 escolas da rede estadual escolherão por votação como será o currículo utilizado pelo ensino médio neste ano. A eleição vai ser feita pela internet, entre hoje e domingo, e apenas os diretores poderão votar. Eles decidirão se a carga de aulas semanais deve ser aumentada de 25 para 30 horas e quantas delas serão destinadas a cada disciplina. Os 143 mil professores não participarão diretamente da eleição, mas deverão ser ouvidos. A mudança ainda não valerá para o período noturno, em que estudam 49% dos alunos.

Essa é a primeira vez no País que uma mudança curricular não é imposta pelo governo. A decisão da maioria das escolas será aplicada a todas as outras. Os votantes responderão se aprovam ou não o aumento da carga horária. Em caso positivo, poderão aceitar ou recusar uma proposta montada pela Secretaria Estadual de Educação, que inclui aulas obrigatórias de filosofia. As escolas podem ainda sugerir um novo currículo. ‘Se surgir uma construção muito interessante poderemos até submeter novamente à votação’, diz o secretário da Educação, Gabriel Chalita.

Ele acredita que a ampliação da carga horária será defendida pela maior parte dos diretores. A diminuição do período de aulas foi determinada pelo governo Mario Covas, em 1998, na gestão da secretária Rose Neubauer. Passou de seis para cinco o número de aulas diárias – a duração de cada uma aumentou de 50 para 60 minutos. A mudança é, desde então, uma das maiores queixas de professores da rede estadual.

Serão investidos R$ 90 milhões na modificação do currículo, mas, segundo Chalita, não será possível aplicar a nova grade ao período noturno porque os estudantes trabalham e não têm flexibilidade de horário. Eles têm apenas quatro aulas por dia, com carga total de 20 horas semanais.

Para participar da eleição, é preciso acessar o site www.educacao.sp.gov.br. Atualmente há quatro aulas semanais de português e literatura, quatro de matemática e, em média, duas para cada uma das outras disciplinas: história, geografia, química, física, biologia e língua estrangeira. Há ainda uma aula semanal para 1.º e 2.º anos do ensino médio e três para o 3.º ano que devem ser usadas para filosofia, sociologia ou psicologia. A proposta da secretaria é incluir mais uma aula de português, de matemática, de história e de geografia. Os dois primeiros anos do ensino médio terão duas aulas de filosofia. No 3.º ano, a escola poderá optar por filosofia, psicologia ou sociologia.

Para o presidente do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), Carlos Ramiro de Castro, o aumento da carga horária atende a uma reivindicação antiga da categoria. ‘Acredito que os diretores vão votar pelo aumento da carga horária. Eles têm os mesmos interesses dos professores, que é melhorar a qualidade do ensino.’

‘Perdemos horas e perdemos na qualidade em 1998. Essa mudança agora seria muito boa para alunos, professores e diretores’, afirma o professor de história Fernando Schueler Pereira da Costa.