Pecados de Paulo Francis

O Estado de S. Paulo

qua, 28/04/2010 - 7h55 | Do Portal do Governo

Biografia de Paulo Eduardo Nogueira retrata jornalista com erros e acertos

Paulo Francis (1930-1997) já inspirou reportagens, teses diversas e até um documentário dirigido por Nelson Hoineff, Caro Francis. Em praticamente todos, é apresentado o perfil de um jornalista brilhante, polêmico, que deixou muitos admiradores, imitadores e devotos em geral, mas também colecionou em vida montes de desafetos. Uma das virtudes de Paulo Francis – Polemista Profissional, livro escrito por Paulo Eduardo Nogueira, que será lançado hoje, na Livraria da Vila.

“Para muitos jornalistas da minha geração, formados na primeira metade dos anos 1970 (…), Francis era um mito; seu texto enxuto, um paradigma”, escreve Nogueira, na introdução, lembrando que, à época, a censura e a dificuldade de comunicação dificultavam o acesso, no Brasil, do que se produzia no resto do mundo. “Com o tempo e a abertura política, que permitiu livre circulação de ideias e tornou mais completa nossa sociedade, o mito se humanizou: percebemos que muitas afirmações peremptórias não passavam de chutes, teses eruditas eram fruto de leituras em diagonal, citações supostamente suas pertenciam a outrem.”

Nogueira não pretende dessacralizar uma das figuras mais emblemáticas do jornalismo brasileiro – em sua prosa direta e elegante, ele busca ressaltar, na verdade, sua figura humana, carregada de erros e acertos. Dono de uma das colunas mais lidas da imprensa brasileira, Diário da Corte, publicada inicialmente na Folha de S.Paulo e, depois, nos seus últimos anos de vida, no Estado, Francis passou a limpo durante anos a verdade que rondava especialmente a política brasileira, considerada por ele como “jeca”. Também ressaltou as novidades culturais que surgiam em Nova York, onde morava desde os anos 1970, e que dificilmente chegariam ao território brasileiro.

Criou inimizades, como a famosa briga travada com o ator Paulo Autran, que criticara impiedosamente em uma resenha teatral. Também ofendeu leitores atávicos ao migrar do trotskismo da juventude para o conservadorismo da maturidade. Uma recaída do cético profissional? Mais ou menos, aponta Nogueira: “Francis considerava esse idealismo “um desvio ilusório do narcisismo mais vulgar”.”

Mesmo assim, Nogueira conclui que a maioria das ideias fundamentais prevaleceu. Acredita também, ancorado no depoimento de Sérgio Augusto, colunista do Estado, que Francis se surpreenderia com as derrapadas da economia americana. Também não suportaria a vulgarização disseminada pela cultura globalizante. Se estivesse vivo, beirando os 80 anos, ele provavelmente se refugiaria em sua casa em Petrópolis, ao lado da mulher Sônia e mergulhado no mundo divino de Wagner, Dostoievski, Gene Kelly e de seus muitos gatos.

Além de Nogueira, também estarão lançando livros hoje de Maria Helena Tachinardi (Roberto Müller Filho – Intuição, Política e Jornalismo) e Elizabeth Lorenzotti (Tinhorão – O Legendário).