Paz nas escolas

O Estado de S. Paulo - Editorial - Domingo, 13 de março de 2005

seg, 14/03/2005 - 9h38 | Do Portal do Governo

EDITORIAL

Os casos de agressão a professores e a alunos nas salas de aula da rede pública de ensino paulista tiveram redução de 26,4% em 2004, na comparação com 2003. Nas escolas e vizinhanças, as ocorrências de roubo, pichações, incêndios criminosos, explosões de bombas diminuíram em pelo menos 20%. No ano passado, o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb) mostrou que o Estado de São Paulo tem atualmente o menor índice de evasão escolar do País. Entre os alunos da 1ª à 4ª série, apenas 1,1% deixa a escola. A porcentagem chega a 3% entre os estudantes da 5ª à 8ª série e, no ensino médio, a 5%. A melhoria se deve, em grande parte, à integração da escola com a comunidade.

São Paulo foi o primeiro Estado a instalar em toda a sua rede de ensino o Programa Escola da Família, em parceria com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Desde agosto de 2003, 5.306 escolas em 645 municípios paulistas abrem aos fins de semana para receber a comunidade em cursos profissionalizantes, de línguas, teatro, oficinas, campeonatos esportivos, palestras e outras atividades que fazem do prédio escolar a opção de lazer e de capacitação para os vizinhos, principalmente nas periferias.

O programa é desenvolvido em cada região de acordo com as carências, perfis e expectativas específicas das comunidades. Ao planejar as ações a serem empreendidas, os coordenadores do programa seguem quatro diretrizes – cultura, esporte, saúde e qualificação para o trabalho. Numa região com alto índice de desempregados, a profissionalização deve ser o foco das atividades oferecidas na escola nos fins de semana. Onde o problema se concentra nas relações familiares estabelecidas, mas não bem consolidadas, a aproximação de pais e filhos em eventos esportivos, oficinas artísticas e atividades de lazer é fundamental.

Para levar adiante o Escola da Família, o Estado investiu, no primeiro ano de funcionamento, em 2003, R$ 60 milhões. Em 2004, foram R$ 184 milhões e, neste ano, o programa deverá receber R$ 176 milhões. Em 18 meses, houve 82 milhões de participações nas atividades, atendidas por 5.306 educadores profissionais, 5.306 gestores, mais de 33 mil voluntários e 30 mil bolsistas universitários que comparecem às escolas nos sábados e domingos.

Outro aspecto altamente positivo do Escola da Família, além de oferecer às comunidades formação e diversão, é que o programa dá a jovens carentes os meios necessários para entrar numa universidade. A Secretaria Estadual da Educação, em convênio com 317 universidades particulares, oferece aos jovens que atuam no programa bolsas equivalentes a 50% do valor das mensalidades, limitado ao teto de R$ 536,00. As universidades arcam com o restante do custo. Em troca, após passarem por treinamento e capacitação, os universitários bolsistas trabalham 16 horas, nos fins de semana, no atendimento das comunidades.

Há dias, durante a realização do Fórum Governo Educador, que reuniu 400 prefeitos paulistas, o governador Geraldo Alckmin anunciou sua disposição de auxiliar as prefeituras a instalar o Escola da Família nas redes municipais de ensino do interior. A ajuda do Estado consistirá no pagamento de bolsas de estudo para 15 mil novos monitores. O Estado oferecerá R$ 134,00 por aluno, as prefeituras arcarão com igual valor e as universidades com a outra metade das mensalidades.

O aprimoramento pessoal e profissional das pessoas envolvidas no Programa Escola da Família é comprovado pelos números que revelam a redução de violência e vandalismo nas escolas e pelo crescimento da participação nas comunidades. Já no primeiro ano de funcionamento do programa, comemorado em agosto de 2004, os casos de ameaças físicas apresentaram redução de 27% e os de invasões a escolas, de 29%, conforme pesquisa realizada pela Universidade Estadual Paulista (Unesp).

Promover a integração entre a comunidade e a escola, transformando as escolas, nos fins de semana, em centros esportivos, culturais e de lazer, tão raros nas regiões mais carentes das cidades, e cultivando valores como cidadania e civilidade, é uma fórmula muito eficiente para o controle da violência e para a evolução dos índices educacionais.