Passeio de trem busca parceiros para a retomada do uso turístico

O Estado de S. Paulo - Sexta-feira, 18 de junho de 2004

sex, 18/06/2004 - 9h20 | Do Portal do Governo

Viagem histórica da Estação da Luz a Santos encanta passageiros convidados

FABÍOLA GLENIA

O apito do trem ecoou pela plataforma e cerca de 140 pessoas se agitaram no saguão da Estação da Luz. Eram 9h30 de uma manhã cinzenta, mas o dia reservava surpresas. Começava ali uma viagem pela história do País, em vagões de trem da década de 20, vindos da Inglaterra, com decoração original. O chefe de estação e seu ajudante, vestidos a caráter, davam o tom do passeio.

Relembrando os tempos áureos dos barões do café, empresários, representantes do governo, membros de organizações nãogovernamentais e pessoas ligados à rede ferroviária dividiam-se entre o carro-bufê, o vagão presidencial e o carro administrativo.

O evento foi aberto para convidados que assistiriam à entrega da restauração da Torre do Relógio da Vila de Paranapiacaba e ao lançamento do livro O Palácio do Café. Paralelamente, estava o interesse de sensibilizar os empresários para a possibilidade de retomar o uso turístico de um trajeto com história e belezas naturais.

‘Essa ferrovia é extremamente importante para a história do País, mostra o circuito do café e representa um grande investimento em cultura’, diz Maria Inês Dias Mazzoco, coordenadora de Preservação do Patrimônio Histórico da Rede Ferroviária Federal (RFFSA).

Segundo ela, há dois meses, a RFFSA vem desenvolvendo estudos de viabilidade do uso turístico em parceria com a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), a MRS Logística (responsável pelo transporte ferroviário de carga até o Porto de Santos) e a prefeitura de Santo André, que comprou a Vila de Paranapiacaba, tombada como patrimônio histórico e um dos principais atrativos turísticos do passeio.

Uma hora e 45 minutos depois de partir da Estação da Luz, a composição chega a Paranapiacaba. Um céu azul, muito sol e uma banda recepcionam os viajantes. O trecho mais fascinante do passeio – e o mais difícil de ser adaptado ao uso turístico – vem em seguida. A descida da serra, feita pelo sistema de cremalheira, vai margeando o antigo e abandonado sistema funicular. Uma paisagem com muito verde.

‘Linhas turísticas dão pouco retorno financeiro e têm mais valor pelo saudosismo que despertam’, diz Rodrigo Vilaça, diretor-executivo da Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF). Atualmente, a ANTF tem 14 projetos de uso turístico de trechos ferroviários.

A viagem foi organizada pela Appraisal, membro da AmaBrasil, cuja finalidade é a preservação do patrimônio histórico, cultural e ambiental. ‘O pós-evento é muito importante neste caso’, diz José Eduardo Moura, do Departamento de Marketing Cultural, numa referência à tentativa de sensibilizar os empresários para formar parcerias.

A uma velocidade de 35 quilômetros por hora, a viagem termina às 14 horas, na Estação de Santos, de 1867. Da estação, os viajantes embarcam nos bondes históricos de Santos para, finalmente, descer na Bolsa Oficial de Café, de 1922. A essa altura, a manhã cinza havia se transformado numa bela tarde de sol.