Parque da Juventude: 1.ª fase pronta em 4 meses

O Estado de S. Paulo - 21/5/2003

qua, 21/05/2003 - 9h01 | Do Portal do Governo

Renato Lombardi


Secretário Lars Grael promete entregar quadras, pistas de cooper e skate

As marcas do que restou do maior presídio da América Latina, a Casa de Detenção, ainda estão presentes, mesmo com a implosão de três pavilhões, o início da reforma de outros quatro e a desativação do cárcere marcado por rebeliões e um massacre.

A Detenção está se transformando no Parque da Juventude, que terá setores de educação, lazer e cultura, num projeto estimado inicialmente em R$ 22 milhões, mas que deve custar R$ 58 milhões.

Nas paredes dos pátios e nas portas de ferro das celas, as frases escritas pelos presos ainda impressionam operários e visitantes. “Jesus é o único amigo que não abandona amigo no meio do caminho”, escreveu um homem que esteve preso no Pavilhão 2. “O presente do futuro trará recordações do passado”, escreveu um outro. “Luis da Vila Gustavo. Estive aqui um dia. Não volto mais.”

Frases bíblicas estão em quase todas as paredes dos quatro pavilhões. “Deus é a salvação. Saindo deste inferno, é preciso ter vontade e fé para não voltar. Somente assim Ele salva.” Ou: “Seguindo Deus você verá que o esperto é o que está lá fora. O que continua aqui não tem futuro”.

O Pavilhão 2, onde serão realizadas atividades culturais, um dia abrigou presos de bom comportamento. Era conhecido como Hotel Jaraguá e sua cozinha, que atendia somente os diretores, era famosa pela competência dos detentos cozinheiros na elaboração dos pratos.

Um deles chegou a ser um dos principais mestres do hotel Maksoud Plaza. Era especializado em doces. O strudel feito pelo detento, de ascendência alemã, era imbatível, dizia o ex-diretor do presídio Luiz Camargo Wolfmann.

Ritmo – As obras para a instalação do parque estão em ritmo acelerado. Na quinta-feira, o secretário da Juventude, Esporte e Lazer, Lars Grael, esteve visitando o que restou do presídio e o que está sendo feito.

A primeira fase é composta pelo parque esportivo e a previsão de entrega, segundo Grael, é setembro. Com cerca de 380 metros de comprimento e adaptada para ser usada à noite, essa parte do parque terá dez quadras – incluindo dois campos de futebol soçaite –, pistas de cooper e skate. Segundo o secretário, a população poderá usar todo o setor esportivo e passar o dia no complexo, que terá vestiários e lanchonetes.

Outra obra do projeto, o parque central, deve ter gramados, passeios, ciclovias e anfiteatro. As águas do canal do Rio Carajás, que passa atrás das muralhas, serão tratadas para a piscicultura ornamental. Parte da muralha será preservada para a prática de rapel. Nessa área serão mantidos edifícios tombados – entre eles, uma edificação projetada pelo arquiteto Ramos de Azevedo.

A última etapa deve ser entregue à população apenas daqui a dois anos. Será o parque institucional e lá é que ficarão um centro cultural, um centro de excelência para o terceiro setor, uma Fatec e um centro de tecnologia da informação e inclusão digital. “A idéia é oferecer cursos de música, dança e artes cênicas, educação profissional, uma biblioteca virtual, um infocentro e ainda facilitar o desenvolvimento de organizações não-governamentais”, declarou o secretário.

Grades – A reforma de cada pavilhão custará em torno de R$ 7 milhões. A parte elétrica e hidráulica será refeita. As grades das janelas e as portas das celas serão arrancadas. No Pavilhão 4, dois andares serão preservados para a memória da prisão. As celas serão restauradas e mantidas como os presos deixaram quando foram transferidos.

Um dos maiores problemas enfrentado por Grael é o entulho dos Pavilhões 6, 8 e 9 que vieram abaixo em dezembro. Já foram retirados 10.500 metros cúbicos de terra, concreto e ferro. Faltam ainda outros 42 mil.

O secretário acreditava que o entulho poderia ser reciclado na obra, mas a hipótese foi afastada. “Ficava caro separar o ferro do concreto e não teria um aproveitamento total.” Ele e uma equipe da Casa Civil estudam a melhor maneira de remover o entulho e liberar a área o mais rápido possível.

A saída mais econômica encontrada foi a de destinar o entulho para aterros em pedreiras que possuem licença ambiental e estão próximas do Carandiru.

O uso desse material para o preenchimento de cavas das pedreiras é recomendado pelos ambientalistas. “Por possuir peso específico similar ao das rochas, ele permite a recomposição geológica e paisagística das áreas que foram degradadas para a exploração de rochas.”

Uma outra solução seria mandar o entulho para as obras de rebaixamento da calha do Tietê. O material poderia ser reutilizado para o calçamento das Marginais e para a base das paredes que serão concretadas em alguns trechos do rio. Grael estima que a secretaria vai gastar R$ 1 milhão para a retirada do entulho. “Vamos ter de gastar, não há outra saída.”