Parcerias levam a comunidade para dentro das escolas

O Estado de S. Paulo - Segunda-feira, 24 de maio de 2004

seg, 24/05/2004 - 10h05 | Do Portal do Governo

Programa, que será debatido hoje em seminário, reduz a violência e depredações

RENATA CAFARDO

Diferentemente dos dias de aula, não há travas nos portões das escolas estaduais de São Paulo aos sábados e domingos. Com o apoio da Unesco, o governo financia 25 mil bolsas em universidades para estudantes carentes em troca do trabalho nas escolas nos fins de semana. No último mês, um recorde de 5 milhões de pessoas participaram das atividades, que incluem esportes, artesanato e brincadeiras.

O conceito simples é defendido por educadores em vários países (veja texto abaixo): abrir a escola para pais, alunos e vizinhos, tornando-a verdadeiramente parte da comunidade. O espaço antes ocioso é aproveitado pela população carente de lazer e cultura. Segundo o secretário de Educação, Gabriel Chalita, a violência e a depredação do patrimônio público têm diminuído significativamente.

‘Eu estaria em casa, vendo televisão’, diz Caíque Lupo, de 9 anos, que ontem aprendia a fazer objetos com papel jornal na Escola Estadual Brasílio Machado, na Vila Madalena. ‘É uma cesta para pôr papel higiênico’, explica.

No pátio, o ajudante de restaurante Antonio Cipriano de Souza jogava bola com os dois filhos e outros meninos. ‘Os garotos (universitários) não deixam acontecer confusão e nem entrar droga aqui.’

O programa, chamado de Escola da Família, existe desde agosto de 2003 e funciona por meio das parcerias que o governo fez com 313 instituições privadas de ensino superior. O Estado paga metade da mensalidade do estudante e a universidade, a outra metade. ‘Deixei de estar inadimplente e ainda criei um vínculo com a comunidade que não perderei nunca’, diz Bruno Blois, de 20 anos, que cursa Economia na Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP) e ensina economia doméstica a pais e filhos numa escola da Lapa.

Chalita contará a experiência de São Paulo hoje no Fórum Internacional Parcerias em Educação, organizado pelo Instituto Protagonistés, pelo Consulado-Geral dos Estados Unidos e pela União dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime). O Ministério da Educação (MEC) pretende ampliar no ano que vem o programa Abrindo Espaços, que também realiza oficinas e outras ações para a comunidade nas escolas nos fins de semana. Ele funciona atualmente em algumas escolas públicas do Rio Grande do Sul, Pernambuco, Bahia, São Paulo e Rio, mas o governo federal quer expandi-lo para todo o País.

Empresas – Na Escola Estadual Maria Eugênia, que fica perto da favela do Jaguaré, os fins de semana – e também os dias de aula – foram ainda incrementados pelo patrocínio da multinacional suíça Roche, que organiza aulas de violão, percussão, teatro e dança, entre outras. ‘O único local de lazer no bairro era uma pracinha’, diz a diretora, Simone Formi. Ela conta que, além dos instrumentos doados pela empresa, os pequenos comerciantes locais também se mobilizaram para comprar violões para os alunos. As atividades são realizadas fora dos horários de aula, tanto durante a semana, quanto aos sábados e domingos. ‘Melhoraram a disciplina e o nível de atenção das crianças e aumentou o vínculo da comunidade com a escola.’

Segundo Chalita, a educação virou a ‘menina dos olhos’ dos empresários quando se fala em responsabilidade social. São inúmeros os projetos oferecidos por empresas ao governo. ‘O projeto educacional não pode ser apenas proposto pelo governo. Se a proposta é da sociedade, ela sobrevive a diversos partidos’, diz a ex-secretária de Educação e presidente do Protagonistés, Rose Neubauer.

Português – Outra participante do Fórum sobre parcerias será Ilona Becskeházy, diretora-executiva da Fundação Lemann, criada há três anos pelo investidor Jorge Paulo Lemann com o intuito de incentivar a melhora na qualidade do ensino. Este ano, a previsão de investimentos em projetos educacionais é de US$ 800 mil. Um deles, executado pelo Protagonistés, é um curso gratuito para gestores de 200 escolas públicas de São Paulo e Santa Catarina.

As atividades são monitoradas a distância, pelo computador, e o foco é a aprendizagem da língua portuguesa. Segundo Ilona, avaliação prévia realizada nas escolas participantes mostrou defasagem dos alunos na disciplina.

‘Mostramos a eles que é possível melhorar o desempenho dos alunos com o que a escola já tem’, diz Ilona. A fundação orienta os diretores a utilizar melhor materiais como jornais, revistas, cartas, gibis e livros.