Parceria revela talentos no 2º grau

O Estado de S.Paulo - Segunda-feira, 12 de novembro de 2007

seg, 12/11/2007 - 17h36 | Do Portal do Governo

O Estado de S.Paulo

Projetos como o de um robô que fareja álcool e segue ou foge da sua fonte, uma harpa que usa lasers em vez de cordas e um cadeado com reconhecimento de voz estão longe de fazerem parte do cotidiano da feira de ciências escolar comum. Mas, graças a um convênio feito com o Grupo de Sensores Integráveis e Microssistemas (SIM) da Escola Politécnica da USP, alunos do Colégio Pueri Domus estão tendo a rara oportunidade de desenvolver trabalhos como esses, avançados até para estudantes de engenharia. E ainda podem experimentar um pouco do ambiente universitário antes de prestar o vestibular.

Thiago Henrique Daud, aluno e pesquisador do Grupo SIM, conta como começou a parceria: ‘Fui procurado por um grupo de alunas em 2005. Mas, depois de várias discussões, elas acabaram se interessando por outro projeto que desenvolvíamos aqui no laboratório’. O novo projeto, uma interface de computador controlada por impulsos nervosos, é uma abordagem de vanguarda que promete melhorar a qualidade de vida de pessoas com paralisia cerebral e rendeu às alunas o primeiro lugar na feira.

Um segundo grupo de alunos procurou o Grupo SIM para orientação em 2006, e após este novo contato, seu coordenador, o professor Francisco Javier Ramirez, propôs um convênio à escola. Começando este ano, a possibilidade de orientação por pesquisadores do Grupo SIM foi estendida oficialmente a todos os alunos participantes da feira de ciências que escolhessem trabalhar com temas dentro das áreas de interesse do laboratório. Passaram a freqüentar as instalações da Poli, e assistir a apresentações que freqüentemente estavam muito adiante do conteúdo da escola.

Além do aumento na sofisticação dos projetos dos alunos, a parceria mostrou resultados inesperados. Muitas vezes as qualidades valorizadas pela escola, como notas e boa disciplina, não se traduzem em desenvoltura no papel de pesquisador na universidade.

E o contrário, um aluno diagnosticado com dislexia e de desempenho limitado no colégio, destacou-se tanto nos laboratórios que foi imediatamente convidado para um estágio no Grupo SIM, para surpresa dos pais, professores, e do próprio aluno, Luiz Maurício Jardim Filho.

ROBÔ FAREJADOR
‘Desde cedo o Maurício mostrava interesse e capacidade para lidar com eletrônica. Ele vivia desmontando ou consertando aparelhos’, revela seu pai. O projeto do grupo de Maurício, o robô farejador citado no início da reportagem, foi o primeiro a ficar pronto e então ele mesmo passou a supervisionar e ajudar seus colegas.

Mas o convênio e suas possibilidades de expansão ainda encontram obstáculos na estrutura burocrática da universidade. Apesar do sucesso já alcançado, o professor Ramirez considera a parceria com o Pueri Domus como uma experiência inicial e seu desejo expresso é levar a metodologia para as escolas públicas, para melhorar o ensino de ciências nas camadas menos favorecidas da população.