Parceria leva policiais à universidade

Jornal da Tarde - Terça-feira, 27 de abril de 2004

ter, 27/04/2004 - 9h30 | Do Portal do Governo

Na Zona Leste, 120 policiais, entre soldados, cabos, investigadores, escrivães e guardas civis, deixaram de ler apenas boletins de ocorrência para folhear livros técnicos de direito, graças a um acordo entre o Conselho Comunitário de Segurança de São Mateus e a Unicapital, na Mooca

MARINÊS CAMPOS

Daqui a cinco anos, soldados, cabos, investigadores, escrivães e guardas civis da Zona Leste de São Paulo já poderão ser chamados de doutor.

Desde o começo do ano letivo, 120 deles deixaram de ler apenas boletins de ocorrência para folhear livros técnicos de direito. Depois do expediente nas delegacias e quartéis, todos pegam as mochilas com os cadernos e, nas salas de aula, estão orgulhosos entre os calouros, sentindo o gosto de serem chamados de universitários.

Por meio da ONG Instituto Esperança, o Conselho Comunitário de Segurança (Conseg) de São Mateus fez uma parceria com o Centro Universitário Capital (Unicapital), no bairro da Mooca, e conseguiu colocar os policiais na faculdade.

‘Quisemos dar uma motivação a eles’, diz o médico Carlos Roberto Soler, presidente do Conseg. ‘O nosso sonho é ter uma boa polícia comunitária.’

Por meio desse incentivo aos policiais, o Conseg espera reduzir o índice de criminalidade nesse bairro da Zona Leste, que tem 381 mil habitantes, 45,5 quilômetros quadrados de área, 22 favelas e apenas 300 policiais militares.

‘A região é violenta e tem grandes problemas de furtos e roubos’, conta Soler. ‘Na Avenida Mateo Bei, por exemplo, se o motorista estacionar o carro, em cinco minutos ele será arrombado’, afirma o presidente do Conseg.

Com salários que tornam inviável o pagamento de um curso superior, os policiais civis e militares e guardas civis metropolitanos estão tendo, agora, a possibilidade de fazer a faculdade sem problemas no orçamento.

Depois de bater em várias portas, Soler e a conselheira do Conseg Íris Pollini encontraram na Unicapital a parceria procurada. E a união foi positiva: soldados, cabos, escrivães e guardas, que têm salários de até R$ 1,2 mil, conseguiram um desconto de 60% nas mensalidades. Já os investigadores, com média salarial de R$ 1,5 mil, tiveram um abatimento de 45%. Para fazer o curso de direito, por exemplo, o mais procurado pelos policiais, estão pagando R$ 280 por mês em vez do valor real, de R$ 700.

‘Nós acreditamos na universidade comunitária se integrando à população’, observa o professor Celso Bianchi Barroso, diretor de relações corporativas da Unicapital. ‘Temos fins lucrativos, sim, mas também precisamos pensar na cidadania e o aluno não é uma mercadoria. O mesmo professor que dá aula para 45 estudantes pode dar para 50.’

Em troca do desconto na universidade, os policiais de São Mateus, Itaquera e Guaianazes – e os outros 60 alunos carentes da região, que também conseguiram o benefício -, assumiram com o Conseg o compromisso de prestar serviços comunitários. Alguns distribuem, todos os domingos, roupas e refeições a moradores de rua e outros vão às escolas para incentivar o hábito da leitura entre os alunos e conseguir material didático para a criação de bibliotecas.

Funcionários da Febem

Além dos policiais, a universidade também firmou um convênio com o Sindicato dos Funcionários da Febem e, hoje, 110 monitores cursam as faculdades de pedagogia e psicologia. ‘O ideal seria que outras universidades abrissem suas portas para a comunidade e promovessem esse trabalho de inclusão social’, diz o presidente do Conseg.

Outras instituições de ensino, porém, também já estão participando desse tipo de parceria. Por meio de um convênio com a Central Única dos Trabalhadores (CUT), o Sindicato dos Investigadores, neste ano, conseguiu cerca de 300 vagas para os policiais civis, com descontos que variam entre 30% e 40%, nas unidades da Unip, Uninove e Uniban da Cidade.