Para evitar fraudes no exame, Detran põe câmeras nos carros

O Estado de São Paulo - Sábado, dia 30 de setembro de 2006

sáb, 30/09/2006 - 12h44 | Do Portal do Governo

Objetivo é acompanhar provas em tempo real, para combater corrupção nas auto-escolas

Alexssander Soares, Juliano Machado

A histórica fraude de facilitar a aprovação de um candidato no exame prático de direção deve, enfim, sofrer uma ação efetiva de combate. O Departamento Estadual de Trânsito (Detran-SP) vai exigir que todas as cerca de 2,4 mil auto-escolas paulistas instalem câmeras no interior dos carros usados no dia da prova. Por mês, quase 15 mil pessoas tentam tirar a primeira habilitação na capital, além de outras 30 mil no interior.

A portaria que vai regular a medida sairá na próxima semana. O prazo de adaptação das empresas deve ser de 180 dias. Está praticamente definido que duas câmeras com microfone vão acompanhar, em tempo real, tudo o que ocorre dentro do carro na hora da exame. Deve-se escolher a tecnologia CDMA, usada em celulares, para transmissão das imagens.

Uma das câmeras ficará no centro do teto e vai monitorar os movimentos dos braços e pernas do candidato e do examinador, além de flagrar manobras malfeitas. A outra será colocada ao lado do painel, na altura do peito dos passageiros, para captar a comunicação entre os ocupantes do veículo.

“Certamente não vamos acabar de uma vez com todas as irregularidades, mas o meio eletrônico é o mais eficaz para reduzir essas fraudes”, afirmou o delegado Francisco Basile, chefe da Assistência Policial Técnica do Detran. Reportagem publicada pelo Estado no domingo revelou que, mediante propina de R$ 350,00 a R$ 450,00, alunos tinham a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) garantida, mesmo cometendo faltas graves ao volante.

Embora o objetivo do Detran seja criar uma central de monitoramento em tempo real – o projeto não tem prazo nem custo definidos -, as imagens ficarão armazenadas em um disco rígido, com capacidade de 24 horas de gravação criptografada, ou seja, sem possibilidade de ser manipulada. O aparelho será soldado no porta-malas.

Terminado o exame, o carro será levado para perto de uma van, na qual um laptop receberá as imagens por transmissão sem fio. Haverá ainda a opção de gravar tudo em um CD, para análise posterior. A intenção é armazenar esse material no sistema da Companhia de Processamento de Dados do Estado (Prodesp).

Basile disse que um carro de auto-escola foi equipado nesta semana, para testes. Em poucos dias, outras quatro auto-escolas devem adotar a novidade, mas só para aulas práticas. “Esperamos que, em 90 dias, de 15% a 20% das empresas adaptem sua frota.” A capital deve ser a primeira cidade a adotar integralmente a medida.

O Detran fez um levantamento inicial dos custos para as auto-escolas. Elas pagariam em torno de R$ 3 mil pelo disco rígido, além de R$ 100,00 por mês para a transmissão de dados. O sindicato do setor (Sindautoescola) apóia a intenção do Detran de ampliar a fiscalização durante o exame prático, mas observa que os custos poderão ser repassados aos alunos.

“Somos favoráveis a tornar o exame mais transparente, mas não podemos punir as auto-escolas que trabalham dentro da lei por causa de algumas que cometem deslizes. O custo da instalação dos equipamentos vai onerar as empresas, que vão repassar para o preço da habilitação”, disse o presidente do sindicato, José Guedes Pereira.

Ele ressaltou que tenta negociar um acordo com a diretoria do Detran, para evitar que proprietários das auto-escolas sejam obrigados a comprar o equipamento num curto espaço de tempo. “A categoria não vai aceitar nenhuma portaria por imposição”, afirmou Pereira.