Papa usará amito e casula em missas no Brasil

Nas missas e celebrações especiais, o papa exibe vestes com adornos e cores especiais

sex, 30/03/2007 - 14h46 | Do Portal do Governo

Do UOL News

Tradicionalmente, em aparições públicas, ele está sempre de branco. Nas missas e celebrações especiais, o papa exibe vestes com adornos e cores especiais. A responsável pela roupa que Bento 16 usará em pelo menos três missas que celebrará aqui no Brasil explica.

“O padre do altar é Cristo. Então, a gente quer dar dentro de uma simplicidade toda a dignidade possível. As vestes litúrgicas contribuem, ajudam a elevar a alma a Deus”, afirma a empresária Maria Laura Correia.

Depois de abandonar a química e a publicidade, a empresária portuguesa virou especialista em trajes litúrgicos. Uma forma de se aproximar de Deus, diz ela sobre o novo trabalho.

Durante a visita, Bento 16 celebrará duas missas abertas. Outras duas celebrações reservadas podem acontecer, no Mosteiro, em São Paulo, e no seminário, em Aparecida, onde o papa ficará hospedado.

Além das roupas, ela também prepara os ornamentos para os altares. “Se Deus consentiu que eu fizesse, só me resta fazer jus a esta confiança, não é?”, diz Maria Laura.

Ela tem experiência. Foi ela quem fez as roupas para João Paulo 2º quando ele esteve aqui no Brasil. Uma delas é guardada como relíquia: o amito, um pano branco que o sacerdote usa para cobrir o pescoço e os ombros. Antigamente ele era usado na cabeça e servia para proteger os sacerdotes de maus pensamentos.

Como o amito, cada peça da roupa tem um significado. A casula, que vai sobre a túnica, representa a responsabilidade e a caridade do sacerdote. A estola, sobre os ombros, a autoridade. E a mitra, uma espécie de chapéu, o poder. A mitra do papa, por exemplo, é a mais alta de todo o clero.

A única recomendação do Vaticano foi para que as roupas que o papa vai usar nas missas não fossem quentes e nem pesadas. Pensando nisso, o tecido escolhido foi uma seda usada pela população da Índia, acostumada a temperaturas superiores a 40 graus.

O tecido liso vai ganhar bordados de conchas com pérolas, simbolizando, na tradição católica, a maternidade divina de Maria. “A Virgem é a concha, e, Cristo, a pérola”, explica.

A encomenda indiana ainda não chegou. Precavida, a empresária já tem um “plano B”. “Se caso essa seda não chegue a tempo, nós já temos uns cortes para fazer com uma seda nacional”, conta.

As peças que ficarão no altar foram bordadas com o brasão de Bento 16. Sob orientação de Maria Laura, 15 funcionários trabalham para finalizar também as vestes dos 300 bispos que participarão das missas com o papa.

No tecido usado para a roupa dos religiosos, referência aos quatro evangelistas. “Temos São Mateus, que tem como simbolismo o homem. Temos, depois, São Marcos, que tem o leão dos desertos. Temos também São Lucas, que como símbolo o touro, que era o animal do sacrifício. E São João, que é a águia, que representa o amor de Deus”, detalha a empresária.

A imagem de Nossa Senhora Aparecida, bordada sob uma rede, também aparece nas roupas. Depois de mostrar tantos detalhes, Maria Laura revela uma preocupação. Nas viagens papais, o cerimonial do Vaticano sempre carrega uma roupa para as missas.

E se o papa resolver abrir mão das vestes feitas no Brasil? “Não ficaria absolutamente nada chateada. O que me importa é o papa se sinta bem. Se ele sente-se melhor com uma roupa que ele trouxe, maravilhoso. O carinho e as horas de trabalho que eu ofereci à Deus para fazer isso e também pelas intenções do papa, Deus já as pegou. Então, o resto não me importa, não é?”, confessa.