País prepara primeiro satélite universitário

O Estado de São Paulo - Quarta-feira, dia 24 de janeiro de 2007

qua, 24/01/2007 - 11h17 | Do Portal do Governo

O Estado de São Paulo

Alunos de três instituições trabalham com o INPE em projeto que custará R$ 6,6 milhões até 2009

João Carlos de Faria

ESPECIAL PARA O ESTADO SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

Alunos de três universidades públicas paulistas estão desenvolvendo em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) um satélite. A experiência, inédita no País, deverá possibilitar a realização de experimentos com aplicação na área espacial.

O Itasat, como está sendo chamado, conta com financiamento da Agência Espacial Brasileira (AEB), que vai investir cerca de R$ 6,6 milhões até 2009, quando está previsto o término da construção e seu possível lançamento.

A única experiência semelhante anterior era o Unosat, um nanosatélite de cerca de cerca de 9 kg – ante os 70 kg do Itasat – que tinha sido construído na Universidade Norte do Paraná (Unopar), em Londrina, mas que foi destruído no acidente do Veículo Lançador de Satélites (VLS1), em agosto de 2003, na base de Alcântara (MA).

No projeto do Itasat trabalha um grupo de 30 alunos de graduação e pós-graduação dos cursos de Engenharia e Ciências da Computação do Instituto de Tecnologia Aeroespacial (ITA), da Universidade de São Paulo (USP) – campus de São Carlos – e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

“Lançamos alguns desafios e esperamos as respostas”, afirma o pesquisador do Inpe Sebastião Varotto, que coordena a parte operacional do projeto. Um desses desafios é criar um computador de bordo que unifique as funções que hoje são exercidas por dois equipamentos, um no ar e outro em terra.

Varotto explica que o satélite terá duas funções: uma operacional e outra experimental. A primeira é de coleta de dados e deve funcionar de modo semelhante aos satélites SCD1 e SCD2, do Inpe, que hoje captam informações meteorológicas. Para enviar as informações à Terra ele utilizará um transponder, que também receberá os telecomandos enviados daqui.

O segundo objetivo é fazer experimentos tecnológicos com aplicações na área espacial, em especialidades como controle de altitude, computação, telecomunicações, controle térmico e geração e distribuição de potência.

Por enquanto o projeto ainda está na fase de estudos sobre a missão. “Entre a concepção e a formalização de um equipamento que vai voar no satélite, são várias etapas, todas elas muito interessantes para os acadêmicos”, diz o pesquisador. Segundo ele, diversos componentes já estão sendo adquiridos e outros virão do reaproveitamento de subsistemas do French-Brazilian Microssatellite (FBM, uma missão que vinha sendo feita em conjunto com a França, mas foi cancelada pelos franceses em 2003.

Segundo Varotto, o corte de R$ 31 milhões no Orçamento do Programa Espacial Brasileiro para este ano não deve afetar a transferência de recursos para o Itasat. Mesmo assim, ele não descarta a possibilidade de buscar outras fontes de recursos para garantir sua continuidade. “Se isso for necessário, iremos atrás”, diz. A AEB, no entanto, não se manifestou sobre essa possibilidade.

Se as previsões forem mantidas, o Itasat deverá permanecer no espaço por três anos, a partir de 2009, em órbita a 750 km de altitude.

FORMAÇÃO DE ENGENHEIROS

O professor do ITA Osamu Saotome, coordenador acadêmico do Itasat, considera o satélite como uma etapa de um programa contínuo que deve durar por muitos anos. Ele explica que há duas vertentes: uma relacionada ao projeto tecnológico – no qual participam alunos de graduação – e outra à pesquisa aplicada, voltada para alunos de pós-graduação, nos níveis de mestrado e doutorado.

“Queremos capacitar futuros engenheiros com perfil para trabalhar no quadro de pesquisadores e operadores de satélites do Inpe”, afirma. O projeto, segundo ele é essencialmente multidisciplinar, enfocando a eletrônica e a mecânica sob vários aspectos. Os alunos de graduação vêm dos 3º e 4º anos e recebem bolsas anuais, no valor máximo de R$ 700, para oito horas semanais de dedicação.

Para Saotome, a motivação é, por enquanto, o maior ganho do programa, porque além de ser um tema atual, a construção de um satélite é sempre um desafio muito interessante para os jovens, que muitas vezes sonham com uma oportunidade como essa.

Ele diz também que nada impede a ampliação para outras universidades. “Temos contatos muito recentes com as universidades federal e estadual do Amazonas e há interesse comum principalmente para o desenvolvimento de softwares livres que possam contribuir na construção do computador de bordo”, revela.