Pacientes ficam um dia a menos em UTIs

Folha de S.Paulo - Sexta-feira, 21 de outubro de 2005

sex, 21/10/2005 - 12h43 | Do Portal do Governo

Tempo médio de internação teve redução nos últimos quatro anos, segundo dados da Associação de Medicina Intensiva Brasileira

FERNANDA BASSETTE
DA REPORTAGEM LOCAL

O tempo médio de permanência de um paciente em UTIs (Unidades de Terapia Intensiva) diminuiu um dia nos últimos quatro anos. O doente passou a ficar 6,1 dias internado contra 7,1 dias, segundo dados da Associação de Medicina Intensiva Brasileira.

Essa redução significa menos estresse, maior capacidade de recuperação por conta da proximidade da família, menos infecções e economia para os hospitais.

Isso porque um paciente custa cerca de R$ 980 por dia, em média, dentro de uma UTI, segundo dados da Amib. O Ministério da Saúde repassa R$ 213,71 por dia.

O presidente da Amib, José Maria da Costa Orlando, atribui a redução do tempo ao apoio das unidades de terapia semi-intensiva. Essas unidades -que não são credenciadas pelo Ministério da Saúde e são pagas como quartos comuns- servem como setores intermediários para que o paciente tenha alta mais precocemente.

Além disso, nas unidades semi-intensivas o paciente tem a mesma assistência da UTI, com acompanhamento permanente, e tem a vantagem de poder ficar ao lado da família. ‘Quando ele está na presença da família, o paciente tem uma recuperação muito mais satisfatória’, avalia o intensivista Eliezer Silva, do Hospital Israelita Albert Einstein.

Segundo Orlando, a permanência de um paciente na UTI deve estar condicionada à real necessidade dos recursos humanos e equipamentos. ‘Um dia sem necessidade não melhora nada. Só aumenta o estresse do doente.’

Para o intensivista Marcelo Moock, chefe da UTI do Hospital Geral de Pedreira e do Hospital Geral do Grajaú (hospitais estaduais de São Paulo), as unidades semi-intensivas são fundamentais para a melhora do paciente. ‘Tirar uma pessoa da UTI e levá-la para o quarto é um passo muito grande. Por isso, o médico segura mais tempo o doente para ter certeza de que ele tem condições de ir para o quarto.’

A pesquisa
O levantamento sobre a situação das UTIs no Brasil foi feito entre 2001 e 2004 por meio do programa QuaTI (Qualidade em Terapia Intensiva). Foram analisados 41.130 pacientes que ficaram internados em 53 hospitais (públicos e privados) do país.

O médico intensivista Roberto Cleva, responsável por uma das UTIs do Hospital das Clínicas de São Paulo, diz que o QuaTI permite que o gestor da unidade tenha mais controle sobre a qualidade do atendimento e, com isso, adote medidas de melhoria. ‘Isso é fundamental para que o hospital conheça seu desempenho diante de outros hospitais com capacidades similares’, diz o médico.

Para Cláudia Romano Bauer, enfermeira-chefe da UTI do Hospital São Camilo, não são as unidades semi-intensivas que fazem a diferença. ‘O QuaTI é um indicador para que os hospitais melhorem o atendimento’, diz.

Já para Ana Lúcia Santoro, diretora-clínica do Hospital Geral de Pedreira, as semi-intensivas são importantes, mas custam muito caro. ‘Um hospital público não agüenta manter essas unidades como quartos de enfermaria.’
O Ministério da Saúde colocou em discussão pública a situação das UTIs para elaborar uma política de padronização das unidades. O credenciamento é um dos pontos que está em discussão.

Atualmente o ministério não credencia essas unidades, apenas paga os procedimentos que são realizados.

Aposentada elogia atendimento
DA REPORTAGEM LOCAL

Nem mesmo os nove dias em que ficou internada na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do Hospital Geral de Pedreira foram suficientes para tirar a felicidade do rosto da aposentada Ana, 92, ontem, quando ficou sabendo que deixaria o local.

Mesmo com a idade avançada, a paciente ainda conserva a lucidez e fez questão de deixar os cabelos arrumados antes de receber alta. ‘Ai meu dedo!’, gritou Ana para a enfermeira que colocava o aparelho que mede os batimentos cardíacos em um dos dedos do pé para que a paciente pudesse usar as mãos para almoçar sozinha.

A enfermeira, sorrindo, disse: ‘Ai que susto dona Ana’. A paciente abriu um sorriso, pegou a colher e começou a almoçar tranqüilamente.

Ana afirmou não ter nenhuma queixa do atendimento prestado na UTI do hospital estadual nem do tempo que ficou internada. Muito pelo contrário. ‘As moças são muito boas. Os rapazes mais ainda’, brinca a aposentada.
Deise Cabral, 67, filha de Ana, também elogia o serviço prestado durante o período ficou na UTI. ‘Desde o primeiro dia fomos muito bem tratadas aqui. O único problema foi eu não poder ficar mais tempo com a minha mãe aqui dentro. Os horários eram restritos para a visitação. Mas eu vinha saber como ela estava todos os dias’, disse Deise.

Irmãos
A mesma opinião tem o ajudante de almoxarifado Edmilson Gonçalves de Souza, 31, que acompanhava o irmão Paulo de Melo Alves, 41, internado na unidade de terapia por conta de uma inflamação do pâncreas.

‘Se a gente pudesse estar 24 horas com ele a gente ficaria porque a presença da família é fundamental. Fora isso, tudo aqui é de ótima qualidade’, disse.

Já a coordenadora de arquivo e imagem Valéria Maria Giannoccaro, 40, ficou três dias internada na UTI do Hospital São Camilo depois de sofrer um infarto. Consciente o tempo todo, Valéria teve a companhia da mãe nos horários de visita.

‘Por mais assistido que a gente fique dentro de uma UTI, houve momentos em que eu senti falta de ter alguém da minha família ao meu lado. Mas, mesmo assim, acredito que ficar sozinha nestes momentos é a melhor opção para quem está internado. É menos sofrimento’, disse. (FB)