Ousadia e empreendedorismo

Folha de S.Paulo - Terça-feira, 6 de maio de 2008

ter, 06/05/2008 - 12h00 | Do Portal do Governo

Ousadia e empreendedorismo

 LUIZ ROBERTO BARRADAS BARATA

Folha de S.Paulo

“TIVE ALGUM êxito como empresário. Consegui dar minha modesta contribuição no grande trabalho coletivo de criar riquezas, gerar empregos, fortalecer empresas e lançar novos produtos. Atribuo esse êxito ao trabalho perseverante e a alguma sorte”.

A frase de Octavio Frias de Oliveira, extraída da biografia escrita por Engel Paschoal, não traduz integralmente tudo o que o publisher da Folha, morto em 29 de abril de 2007, aos 94 anos, representou e ainda representa para o Brasil contemporâneo. Perseverante, sim. Mas também ousado e empreendedor, como poucos, na construção de um país, na consolidação da democracia.

Ousar, evidentemente, é fundamental em qualquer área, mas na administração pública tem se tornado um verbo imperativo. Na saúde, especialmente. Assim fizeram os sanitaristas nos últimos 20 anos, promovendo a implantação do SUS (Sistema Único de Saúde). Assim faz o governo do Estado de São Paulo ao entregar, neste 6 de maio de 2008, o Instituto do Câncer de São Paulo “Octavio Frias de Oliveira”, na capital paulista, o maior hospital especializado em oncologia da América Latina.

Trata-se do último prédio inacabado de hospital público estadual existente em São Paulo em 1995. O governo estadual entendeu, corretamente, que era necessário dar prioridade à conclusão das outras 15 unidades, situadas em regiões carentes de leitos, como Taboão da Serra, Diadema e Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo, Pedreira, Grajaú, Vila Alpina e Itaim Paulista, na capital, além de Bauru e Sumaré, no interior.

Em 1998, esses hospitais começaram a ser entregues, representando, hoje, um acréscimo de mais de 4.000 leitos à rede pública do Estado.

Em 2003, após a inauguração do hospital estadual de Sapopemba, foram aceleradas as obras do edifício localizado na movimentada avenida Doutor Arnaldo, no chamado quadrilátero da saúde, que inclui os seis institutos do Hospital das Clínicas e o Instituto de Infectologia Emílio Ribas e totaliza nada menos que 2,5 mil leitos. Tamanha concentração de leitos em um só local foi determinante para que o instituto fosse a última obra a ser concluída pelo governo do Estado.

Foi decisão da atual administração alterar o perfil do instituto, que havia sido reprojetado em 2003 para oferecer atendimento em câncer, transplantes e saúde da mulher. Com o aumento constante da expectativa de vida de brasileiros e paulistas e a conseqüente maior incidência de doenças crônico-degenerativas, é imprescindível ampliar a quantidade de leitos para o tratamento dos mais diversos tipos de câncer, segunda maior causa de óbito no Estado e no país.

Com o novo hospital, a cidade de São Paulo terá maior oferta de leitos públicos em oncologia, para atender a crescente demanda.

O atendimento oncológico às mulheres será uma das prioridades do novo hospital, com cerca de 200 dos 580 leitos reservados exclusivamente para cuidados com o câncer ginecológico. Do total de leitos, 360 serão de apartamentos com duas camas, 84 de UTI e terapia semi-intensiva e 30 de hospital-dia, além de vagas específicas de recuperação pós-anestésica, observação e cuidados paliativos.

O instituto foi planejado para ser referência nacional e internacional no atendimento de casos de alta complexidade, desde a prevenção até a reabilitação. Será também importante centro de pesquisa e ensino da Faculdade de Medicina da USP, para a disseminação do conhecimento técnico e científico em oncologia no Brasil e no mundo.

O treinamento e a capacitação de médicos, enfermeiros e demais profissionais de saúde pela USP permitirá ao Estado melhorar ainda mais o atendimento dos pacientes vítimas do câncer em todo o Brasil.

Os números impressionam e não economizam na assistência que será prestada aos paulistas. Até o fim de 2009, o novo hospital estará totalmente implantado, com capacidade para cerca de 1.500 internações, 33 mil consultas, 1.300 cirurgias, 6.000 sessões de quimioterapia e 420 de radioterapia por mês. Para isso, serão necessários cerca de R$ 190 milhões anuais, ou seja, mais do que o custo total da obra física do instituto, que foi de R$ 170 milhões.

Mais do que o atendimento hospitalar de ponta, o novo instituto já nasce como o mais moderno hospital do Brasil, com infra-estrutura de edifício inteligente e sistemas automatizados que são controlados por uma grande central informatizada, proporcionando comodidade ao usuário e otimização de recursos.

A população paulista ganha, a partir de hoje, um forte aliado na luta contra o câncer. O Instituto do Câncer de São Paulo Octavio Frias de Oliveira é fruto de um trabalho ousado, perseverante e empreendedor e certamente promoverá um salto de qualidade sem precedentes à saúde pública nacional, com atendimento integrado, eficiente e humanizado a todos os que dele precisarem.

LUIZ ROBERTO BARRADAS BARATA , 54, médico sanitarista, é secretário da Saúde do Estado de São Paulo.