Osusp abre programa com Villa-Lobos e Guarnieri

Folha de S.Paulo - Quinta-feira, 1 de novembro de 2007

qui, 01/11/2007 - 11h42 | Do Portal do Governo

Folha de S.Paulo

As últimas notas talvez tenham sido as melhores da noite: um espetacular “fortissimo”, ribombando para fechar as “Bachianas Brasileiras nº 8” de Villa-Lobos (1887-1959). Fechavam também o arco iniciado com o “pianissimo” de “La Valse”, de Ravel (1875-1937), que abriu o programa da Osusp, anteontem, na Sala São Paulo.

Entre uma e outra ficavam o “Choro” para violino e orquestra de Camargo Guarnieri (1907-93) e uma “Suíte Tom Jobim” do arranjador da Osusp, Adail Fernandes (1958).

A solista do “Choro” foi Elisa Fukuda, expressiva e serena como sempre. E foi bonito vê-la, também grande professora, acolhida com o espírito da USP. Assim como foi bonito ver Fábio Caramuru, que há anos vem tocando e gravando a música de Tom Jobim (1927-94), como solista da sinfônica da universidade onde defendeu um mestrado sobre o maestro.

Num seminário de pós-graduação, não seria fácil defender a “Suíte” de Adail Fernandes: tudo o que na bossa nova é mínimo e íntimo, tudo o que é triagem, aqui se permite virar multiplicativo e expansivo.

Mas não era um seminário, era um concerto, regido com brio por Carlos Moreno; e só quem estivesse disposto a aceitar a rachmaninovização de uma canção como “Canta, Canta Mais”, por exemplo, poderia julgar essa música nos seus termos. Nada mais ali, a rigor, é uma canção: tudo são temas instrumentais, livremente tratados pelo orquestrador, para usufruto do pianista.

Era uma noite, aliás, de grandes orquestradores, com destaque óbvio para o gênio modernista francês (um virtuose do tempo, também), mas interesse ainda maior, a essa altura, para os nossos dois gênios da raça. A Osusp vem fazendo a integral dos “Choros” de Guarnieri, comemorando seu centenário. É missão mesmo de uma orquestra dessa natureza e qualidade.

Deve ter deixado feliz a solista da estréia, em 1951, Mariuccia Iacovino -presente na platéia, espevitada aos 94 anos. Nem tudo correu como poderia nas “Bachianas”, especialmente nas cordas. Mas a força da música, afinal, estava lá: sopros muito bons, metais arrebentando. E quem pode reclamar de um concerto generoso assim, com a platéia cheia de alunos de escola e outros marinheiros de primeira viagem?

No deserto da música sinfônica universitária, a Osusp segue sendo uma heróica exceção.

OSUSP – ELISA FUKUDA, FÁBIO CARAMURU, CARLOS MORENO Avaliação: bom