Ostra de Cananéia invade mercado de SP

Folha de S.Paulo - 21/10/03

ter, 21/10/2003 - 16h27 | Do Portal do Governo

AQUICULTURA

Pequenos produtores dispensam atravessador, melhoram qualidade do produto e viram fornecedores em São Paulo

Ostra de Cananéia invade mercado de SP

FAUSTO SIQUEIRA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SANTOS

Organizados em cooperativa e com apoio técnico da Fundação Florestal e do Instituto de Pesca de São Paulo, 43 pequenos produtores começaram a introduzir em supermercados paulistanos a ostra coletada nos manguezais de Cananéia (litoral sul paulista).

Com distribuição antes restrita a restaurantes, peixarias e quiosques da Baixada Santista e do litoral norte, a ostra de Cananéia abastece regularmente, desde agosto, quatro lojas do grupo Pão de Açúcar, a primeira grande rede de supermercados a comercializar o produto na capital paulista.

A abertura de mercado para os produtores locais veio na esteira do prêmio conquistado no ano passado pela Cooperostra (Cooperativa dos Produtores de Ostras de Cananéia), classificada na conferência Rio+10, das Nações Unidas, em Johannesburgo (África do Sul), como uma das 27 melhores iniciativas no mundo de desenvolvimento sustentável e combate à pobreza.

Fomentada pelo Projeto de Ordenamento da Exploração de Ostras no Estuário de Cananéia, da Fundação Florestal, vinculada à Secretaria Estadual do Meio Ambiente, a cooperativa conseguiu romper a dependência dos atravessadores, elevar o preço obtido pelo produto e melhorar o nível de renda dos produtores.

‘Todos nós trabalhávamos só com atravessadores, que pagavam R$ 0,80 por dúzia. Hoje, chegamos a receber mais de R$ 2,50’, afirma Mário Batista Pontes, funcionário da cooperativa e um dos 43 cooperados.

A melhoria da remuneração é consequência da capacidade adquirida pelos produtores de agregar valor ao produto, conquistada após a criação do projeto e, em 1997, da cooperativa.

Antes, as ostras extraídas do mangue clandestinamente eram vendidas diretamente aos atravessadores, sem nenhum beneficiamento. Atualmente, antes da venda, as maiores são submetidas a um processo de depuração, destinado a eliminar impurezas, e as menores permanecem em ‘engorda’ nos viveiros de crescimento até atingirem o tamanho ideal para serem comercializadas.

Além disso, a qualidade sanitária passou a ser controlada pelo SIF (Sistema de Inspeção Federal) e por análises complementares realizadas pelo Instituto Adolfo Lutz, por meio de convênio com a cooperativa.

A maioria dos viveiros fica na reserva extrativista do bairro Mandira, a primeira do gênero no Estado de São Paulo, criada em dezembro do ano passado por decreto federal. A reserva é a área núcleo do projeto e funciona como uma unidade de conservação destinada ao uso sustentável do recurso pela comunidade.

A proteção contra a captura predatória é legalmente garantida por duas portarias. Uma impede a coleta de ostras com menos de 5 cm -ainda não desenvolvidas- e com mais de 10 cm -porque são matrizes reprodutoras. A outra proíbe a extração do molusco no período reprodutivo (entre 18 de dezembro e 16 de fevereiro).

‘O salto de qualidade foi muito grande porque promoveu uma ostra com aparência melhor e com mais segurança ambiental e de consumo. O produto ganhou muito mais garantias’, afirma a pesquisadora Ingrid Cabral Machado, do Instituto de Pesca.

De acordo com a socióloga Wanda Maldonado, gerente de Desenvolvimento Sustentável da Fundação Florestal e coordenadora do projeto, levantamento efetuado pela fundação detectou grande potencial de mercado na capital paulista para a ostra produzida em Cananéia.

‘A partir de um plano de negócios montado pela cooperativa, os produtores estão se estruturando, do ponto de vista de logística, para fazer a distribuição direta principalmente para restaurantes’, afirmou Wanda.

Segundo Mário Pontes, o fornecimento em maior escala está garantido pela atual capacidade ociosa da cooperativa. ‘Podemos produzir até 10 mil dúzias por mês, mas ainda não temos esse mercado. No verão, quando a produção atinge o pico, chegamos no máximo a 6.000’, disse.