Osesp transforma carreiras

O Estado de S.Paulo - Sexta-feira, 5 de agosto de 2005

sex, 05/08/2005 - 14h26 | Do Portal do Governo

Trompista veio da Bulgária, ‘para uma só temporada’, enquanto trombonista tocava na noite

Renata Gama

O trompista Nikolay Alipiev Genov, de 34 anos, veio de longe para se unir aos músicos da Osesp. Saiu da Bulgária em 1996, juntamente com um grupo de instrumentistas que acabou absorvido pela orquestra de Ribeirão Preto. ‘Eu tinha um emprego bom lá, mas vim para o Brasil porque o meu país passou por muitas mudanças após a queda do muro de Berlim’, explica.

A idéia era passar apenas uma temporada. ‘Só vim para conhecer. A orquestra de Ribeirão Preto não era profissional.’ Mas quando conheceu a mulher, Isabel, mudou de idéia. Casou-se e se naturalizou brasileiro. Em Ribeirão Preto, Genov era regido pelo maestro Roberto Miczuk. E foi por meio dele que descobriu que em São Paulo seu futuro poderia ser mais promissor. ‘Não tinha noção de que esta capital era tão grande. Lá na Europa eu só ouvia falar no Rio de Janeiro e na Amazônia.’

No meio da metrópole, encontrou um lugar bem tranqüilo para morar. ‘Quando cheguei aqui, gostei muito do lado do Horto, da Serra da Cantareira. Não gosto da loucura do centro.’ Logo que veio, em 2000, foi compor a orquestra no Theatro Municipal. Mas logo ficou de olho em uma vaga na Osesp. ‘Eu sempre quis tocar em uma orquestra como esta, em que o ritmo é mais puxado. Toda semana tocamos peças diferentes. Sou novo e estou montando o meu repertório.’

A orquestra passava por período de reformulação e incorporou muitos estrangeiros. Quando abriram as inscrições para os trompistas, Genov não perdeu tempo e fez os testes. Hoje, ele se orgulha de fazer parte do grupo reconhecido internacionalmente até pelos mestres. E fica feliz em contribuir para que a música clássica se popularize no Brasil. ‘Os meus vizinhos querem ouvir a Osesp’, exemplifica. Na Bulgária, os habitantes são familiarizados com a formação clássica.

JAZZ

Antes de fazer parte da Osesp, o trombonista Fernando Chipoletti, de 43 anos, tocava na noite. ‘Nunca pensei em música clássica, pensava em Big Band.’ O artista, que começou a tocar trombone aos 14 anos, tinha uma tendência maior para o jazz. Chegou a tocar ao para programas de TV, como os de Silvio Santos, e acompanhou músicos importantes, como Nelson Gonçalves, em teatros de relevância no circuito nacional, como o Cultura Artística.

Mas, por fim, rendeu-se às partituras dos grandes mestres em busca de um desafio. ‘São mais interessantes, têm maior qualidade.’ A escolha já completa quase 20 anos. ‘Fiquei 10 anos com o Eleazar e estou na orquestra nova desde 1997 (ano em que o maestro morreu).’ Com a liderança de Eleazar de Carvalho, desde 1972, a Osesp passou por um período de grande atividade e prestígio até a década de 90, quando enfrentou sérios problemas estruturais e falta de recursos.

A reestruturação veio com a chegada de John Neschling e novos investimentos da iniciativa pública. O desafio era tornar a Osesp uma orquestra de nível internacional. Uma meta que já foi atingida.