Osesp promove concerto didático

O Estado de S.Paulo - Segunda-feira, 13 de agosto de 2007

seg, 13/08/2007 - 11h27 | Do Portal do Governo

O Estado de S.Paulo

A platéia não faz silêncio, não há senhoras de salto alto nem moços engravatados. Aparece um palhaço que solta bolinhas de sabão, valsa com a professora e faz rir até o maestro. Mas o cenário é a Sala São Paulo e no palco há uma orquestra. Sentadas nas poltronas azuis, dos camarotes ao coro, estão 1.200 crianças de escolas públicas e particulares que participam de um concerto didático da Fundação Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp).

O espetáculo da semana passada foi a abertura do segundo semestre do programa Descubra a Orquestra, que tem atividades educacionais para alunos e professores. O número de crianças participantes aumentou 1.800% desde 2001, quando foi lançado. Neste ano, a estimativa é de 46 mil – com inscrições esgotadas e 10 mil crianças na fila de espera.

A maioria delas ouve pela primeira vez uma orquestra – mas muitas reconhecem sons de Danúbio Azul, Quebra-Nozes, Sinfonia nº 9. “O repertório com um pot-pourri é para que elas identifiquem as obras, mesmo que não saibam o nome delas”, diz o maestro Leonardo Camargos, da Orquestra Sinfônica da Universidade de São Paulo (USP), parceira da Osesp, que conduziu o espetáculo. Com a identificação, vem a reação. Cena rara numa sala de concerto: as crianças acompanham as músicas com palmas.

Não há rigor. Elas gargalham e até levantam da cadeira a cada aparição do ator Wellington Nogueira, fundador dos Doutores da Alegria, organização não-governamental voltada ao trabalho com crianças. O palhaço ajuda a despertar o interesse pelo espetáculo. “Tinha maestro, flauta e até palhaçada”, diz Aline Souza, de 8 anos, aluna de uma escola municipal. “Eu gosto dos Rebeldes, mas gostei dessa música também”, completa, lembrando-se da banda pop mexicana.

A colega Ana Gabriela da Silva, de uma escola de Jaguariúna, diz que “nunca viu nada tão bonito”. E a aluna do Colégio Visconde de Porto Seguro Carolina Reznicek, de 10 anos, também saiu encantada. “As música foram bem tocadas, algumas são alemãs”, notou.

O diretor da Osesp, John Neschling, explica que a intenção do programa é tentar influenciar na educação musical das crianças. “O objetivo não é formar músicos, é dar informação sobre uma linguagem que elas não encontram em outros lugares e, assim, formar público.” Neschling também conduz espetáculos didáticos, em que interrompe o concerto para responder a perguntas e falar de música clássica. “Aqui elas aprendem algo que a escola contemporânea não ensina: introspecção, concentração, parar para ouvir música.”

Questionado sobre o risco de um projeto desses se resumir a apenas uma experiência isolada, sem continuidade na vida dos estudantes, ele diz que a Osesp não pode ser responsável pela educação musical desses meninos. “Não podemos fazer o papel do Estado.” O ensino de música não é obrigatório no País. Existe em algumas escolas particulares e em poucas públicas.

No início do espetáculo, o palhaço ensina: “Se gostarem da música, digam ‘bravo, bravo’ que ninguém vai ficar bravo com vocês.” Ao fim, após o Bolero, elas aplaudem sem parar, assoviam e esquecem do “bravo”. A ingenuidade infantil também não lhes permite saber que poderiam aplaudir de pé. Mas os sorrisos dizem mais que qualquer educada ovação.