Osesp procura músicos pelo mundo

Folha de S. Paulo

sex, 07/05/2010 - 9h20 | Do Portal do Governo

Sinfônica realizará audições em Beijing, Nova York, Berlim e outras cidades para a contratação de sete instrumentistas

Abertura de inscrições dá início a pacote de novidades que diretor artístico, após cem dias no cargo, deve começar a trazer a público

Após cem dias como diretor artístico da Osesp, cargo antes acumulado pelo maestro John Neschling, o ex-articulista de Folha Arthur Nestrovski começa a tornar públicas algumas das novidades que engendra desde janeiro. Uma delas veio a público nesta quinta-feira. A direção da Fundação Osesp abriu as inscrições para o preenchimento de sete importantes vagas da orquestra.

A realização de audições na Ásia, na Europa e nos Estados Unidos se deve, segundo Nestrovski, à dificuldade de encontrar-se, onde quer que seja, músicos de altíssimo nível. A Osesp tem instrumentistas de 16 nacionalidades diferentes. Mais de 70% dos integrantes são, porém, brasileiros. “Orquestras são, por definição, organizações cosmopolitas. Acho que, hoje, o Brasil entendeu isso”, diz, recordando a confusão causada, à época da construção da Sala São Paulo, quando a primeira leva de estrangeiros foi contratada pela Osesp.

No fim, muitos deles, como o cellista russo Kirill Bogatyrev, acabaram por deixar a orquestra por se sentirem perseguidos pelo maestro Neschling. “Tomamos a decisão de deixar o Brasil em 2007. A tirania estava cada dia mais insustentável. O desrespeito e a discriminação contra nós, estrangeiros, só aumentava”, conta Bogatyrev, por e-mail, de Qatar, no Golfo Pérsico, onde toca agora. “Mantivemos em segredo a decisão de partir porque a Osesp não permitia que os músicos fizessem testes.”

A frase do cellista recupera, um pouco, o clima que tomou a Sala São Paulo a partir de meados dos anos 2000.

Questionado sobre o quanto a tumultuada saída de Neschling atingiu a sinfônica, Nestrovski responde: “Claro que foi um momento traumático. Mas, quando cheguei, a orquestra já tinha passado por um ano inteiro de acomodação. Não cheguei no olho do furacão”. Porém, ele diz que, por “temperamento e vontade”, está tentando engajar os músicos na escolha de peças e valorizá-los.

O diretor também pretende levar a cabo ações que entrelacem a orquestra a outras manifestações culturais. Haverá, por exemplo, um texto do escritor Milton Hatoum no encarte do CD “Floresta Amazônica”, um conto do inglês Julian Barnes, sobre Sibelius, no programa de agosto, e a incorporação de artistas e fotógrafos contemporâneos às capas dos CDs.

“Integrar a música à discussão cultural também é tarefa de uma instituição como esta”, diz o diretor. “As orquestras, hoje, não são apenas os músicos numa sala de concerto. São projeto social e cultural.”

Na sua opinião, a música clássica entrou no século 21 sem a pecha de nariz empinado. “Muitos solistas são jovens e descolados, e não mais senhores de gravata. O próprio repertório contemporâneo não é mais intelectualizado como nos 50 e 60.”