Osesp no Recife… e tudo acaba em festa

O Estado de S. Paulo - São Paulo - Quarta-feira, 10 de novembro de 2004

qua, 10/11/2004 - 10h14 | Do Portal do Governo

Grupo interpreta Beethoven e Camargo Guarnieri no Teatro Santa Isabel, décima parada de sua turnê nacional

João Luiz Sampaio, de Recife

Duas semanas de turnê depois, o maestro perde a conta. ‘Ontem… onde foi o concerto ontem mesmo?’, pergunta John Neschling, enquanto autografa discos da Osesp em uma livraria no Recife antigo. Pouco depois, no hotel, um músico conta que acordou dia desses e precisou olhar o roteiro da viagem para saber onde estava. Mas, para o público que se alinhava à porta do Teatro Santa Isabel, no início da noite de sábado, a sensação era de uma aguardada primeira vez. ‘Vi a orquestra com o Eleazar de Carvalho há muito tempo’, diz um. ‘Vamos ver se eles são bons mesmo’, diz outro – mas o sorriso mostra que ele sabe bem a resposta.

A Osesp está em turnê. Após viajar pela América Latina e ensair, com alguns concertos, as turnês dos próximos anos para Estados Unidos e Europa, a orquestra resolveu passear pelo Brasil: Manaus, Belém, Teresina, João Pessoa, Maceió, Goiânia, Aracaju, Brasília, enfim, um total de 15 concertos – os últimos dois nesta semana no Rio, sábado e domingo. A viagem é uma comemoração dos 50 anos do grupo – ele foi criado por uma lei de setembro de 1954, apesar de já estar em atividade desde o ano anterior. Mas, 50 ou 51, pouco importa. Um público de mais de 100 mil pessoas por ano, um dia a mais de concertos (três em vez de dois) por semana em 2005 e novo plano de patrocínio de pessoa física – a orquestra segue sua trajetória, apesar do medo cada vez maior com relação à frágil posição institucional e à criação, ou não, da organização social que lhe dê maior estabilidade.

No Recife, o concerto começou com a abertura do Barbeiro de Sevilha, de Rossini, e a Suíte Vila Rica, de Camargo Guarnieri. Mas a coisa engrenou mesmo foi na segunda parte. Antes da Quinta, de Beethoven, uma palavrinha de Neschling. Antes do maestro, o showman. Ele levou o público às alturas com elogios ao teatro e à acústica, ‘um pouco seca’, mas ainda assim uma das melhores que encontraram até então. Arrancou risos ao falar da trabalheira que é uma turnê, instrumentos para transportar, mais de 70 músicos, ‘alguns precisam de cama de casal, outros de solteiro, e tem aqueles que mudam de idéia no meio do caminho’. Prelúdio para a alfinetada no governo federal. ‘Dá tanto trabalho e a gente foi pedir ajuda. Não deram. Estamos fazendo tudo sozinhos. É errado. Não somos uma orquestra só de São Paulo. Quando tocamos lá fora ou editamos partituras de autores brasileiros, promovemos o País.’ E, para terminar: ‘Lá em São Paulo, nosso lema é: ‘Pode aplaudir que a orquestra é sua’. Pois pode aplaudir aqui em Recife, porque a orquestra também é de vocês.’

Público ganho, foi a vez de Beethoven. Uma Quinta um pouco prejudicada pela tal acústica seca, com pouca reverberação. Mas não fez diferença. O público atendeu ao maestro e aplaudiu. Vieram os bis. De cara, o Mourão, de Guerra-Peixe, com direito a maestro-dançarino e orquestra que senta, levanta, bate o pé no chão. Na marcha que encerrou a noite, o delírio do público com os músicos tocando de pé e fazendo coreografias. Riso, palmas. Como de costume com a Osesp, tudo acaba em festa.