Osesp faz versão memorável de ópera de Richard Strauss

Folha de S. Paulo

qua, 16/09/2009 - 8h23 | Do Portal do Governo

Ovacionada pelo público, montagem contou com vozes de renomados solistas

Até a ovação foi excepcional. Nem a soprano Anne Schwanewilms acreditava no que via e ouvia, ao final da ópera “O Cavaleiro da Rosa”, domingo passado na Sala São Paulo: 1.500 pessoas de pé, gastando as palmas das mãos, as cordas vocais, os assobios e o que mais fosse para extravasar a loucura depois do terceiro ato. Com as mãos sobre os ouvidos, a alemã balançava a cabeça, aplaudida também pelos 20 outros solistas e o regente Richard Armstrong.

Fazia 50 anos que a obra-prima de Richard Strauss (1864-1949) não era apresentada na cidade. E, como ensina Sergio Casoy, no sempre útil “Ópera em São Paulo” (Edusp), antes de 1959, só em 1915 -quatro anos após a estreia da ópera. Para quase todo mundo, então, era a primeira chance de ouvir ao vivo uma das partituras mais espetaculares do século 20.

Foi uma versão de concerto, mas com muitos toques de encenação, dirigida com discreta vivacidade por André Heller-Lopes. Além de Schwanewilms -que fará o mesmo papel da Marechala ano que vem, na ópera de Berlim-, a Osesp trouxe o impagável baixo Franz Hawlata -que fez recentemente “Os Mestres Cantores” no Festival de Bayreuth. Um e outro são cantores-atores, capazes de inventar a vida num metro de palco, sem perder jamais o grão da voz.

Tinham com eles a americana Kristine Jepson no papel travestido do adolescente Octavian, amante da Marechala. O físico não ajudava a verossimilhança; mas a voz e a simpatia acabavam por enganar à gente, quase tanto quanto ao próprio Barão. (Que uma mulher faça o papel de garoto, que por sua vez se disfarça de mulher, é só uma das piadas libertinas no libreto mozartiano de Hoffmansthal.)

Se a noiva nessa tarde parecia menos feliz encarnada na húngara Anna Korondi, seu pai deu-se muito melhor, revivido pelo carioca Rodrigo Esteves. O vasto elenco dava-se ao luxo de incluir Denise de Freitas, Marília Vargas, Marcos Thadeu e Atalla Ayan, entre outros, mais o Coro da Osesp e as crianças.

“Sir” Richard gostou visivelmente da orquestra; e a orquestra dele. São três horas de música, com requintes virtuosísticos; música para uma orquestra adulta e maliciosa, que a Osesp sabe ser, quando regida assim. O final, com a Marechala pondo o Barão no seu lugar e depois abdicando de Octavius, é um dos momentos mais raros da história da ópera. Quem ouviu, viu. Quem viver, reviverá, como puder, nas comédias da vida menor, fora do palco.